Recons IberoCeltica
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"Mito da Criação" (originário da lista Recons Iberoceltica)

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Mensagem  Manuel Araújo Qui Ago 18, 2011 2:05 pm

Da autoria de M. Diniz Nemetios
(Quarta-Feira, 16 de Junho de 2010)

Saudações!

Parece absurdo, em vista da falta de evidências e total fragmentariedade do que sabemos sobre o mundo ibérico, e principalmente sobre a religião, pensarmos num "mito da criação". Só poderia ser uma invencionice, no máximo, muito inspirada de alguém - o que já é maravilhoso, desde que não se reclame uma antecedência fraudulenta que remonte aos Lusitanos e foi preservado secretamente, etc. blá, blá, blá...

Considerando isto, penso o seguinte.

1- Os Lusitanos e os Callaecos, ao que evidências linguísticas - e não só elas - majoritariamente apontam, são povos Indo-Europeus. Os Celtibéricos são Indo-Europeus.
2- Os Indo-Europeus em geral têm um conjunto de mitos da criação que compartilham de muitos elementos entre si. Logo, os mitos da criação dos Lusitanos/Callaecos e Celtibéricos devia também compartilhar deste conjunto básico de semelhanças.

>"que conjunto básico de semelhanças?"
-não é difícil, leia: http://pierce.yolasite.com/yamamyth

3- No entanto, há diferenças culturais suficientes entre as culturas Indo-Européias. Então, com o qual, mais provavelmente, tal narrativa (lusitana/callaeca e celtibérica) se pareceria?
4- Proponho os seguintes critérios para delimitar esta "parecença": a) proximidade étnico-linguística-religiosa, b) proximidade histórico-econômica e c) proximidade territorial.
5- De acordo com estes critérios, que são suportados por outros que recorrem a arqueologia, linguística e testemunho literário greco-romano e medieval, é mais provável que tal narrativa tenha semelhanças com as narrativas célticas, assim como talvez etruscas, que com qualquer outras.

>"ora, mas que narrativa céltica? Não há nenhuma..."
-de fato, com o nome "mito da criação", não. No entanto, sobreviveram na literatura céltica insular, especialmente irlandesa, vestígios consideráveis. Um destes, que me parece decisivo para aproximar tal narrativa da germânica/escandinava presente nas Edda, é do "primeiro-homem" (que o copista/monge cristão chamou de Adão) é composto por 8 (9 noutras) elementos. Postamos a passagem em irlandês antigo e nossa tradução (auxiliada pelo inglês) na mensagem #729 da lista Teallach, e estou desenvolvendo um comentário disto ainda lá. Não enumerarei todos os vestígios e sua exata fonte de extração. Este trabalho é necessário para fins elucidativos, mas no momento me está incompleto e ainda estou pesquisando.

6- Neste sentido, uma narrativa Lusitânica/Callaeca e Celtibérica (que seriam 3 ou mais narrativas diferentes, cabe ressaltar, ou no mínimo 2: a luso-callaeca e a celtibérica, com suas variantes regionais), estaria mais próxima da Gaulesa, que por sua vez é igual "fonte" das Britânicas e Goidélicas. Por sua vez, segundo os critérios enumerados acima, é mais provável que tal narrativa gaulesa esteja próxima da Germânica - mais que qualquer outra, e entre as outras enumeraria as anatólicas e bálticas em especial - do que da Hindu, por exemplo.

>"ok, vá lá... mas como esta narrativa gaulesa se pareceria?"
-não é difícil. Há duas versões modernas bem plausíveis: touiso bitouos da KG (que o sr. Bellovesos conhece bem, inclusive postou uma tradução nos arquivos da lista Druidismo Brasil - poderia postar aqui tb?) e a narrativa contida no De Britannia Insula do jovem prof. que assina como Bo. Estou convicto de que a segunda narrativa, além de igualmente plausível, é mais provável. Pelos critérios traçados acima.
Confiram a narrativa: http://mvtabilitie.blogspot.com/2009/09/de-britannia-insula.html

7- No entanto, a construção de uma narrativa hipotética Lusitana, Callaeca e Celtibéricas requer que conheçamos melhor o caráter e as funções das divindades, para que possamos perceber qual delas ocupa posições ontologicamente mais significativas e/ou anteriores na narrativa. Cabe ressaltar que tal panorama geral, construído com base na arqueologia, por isto mesmo, está em processo e constante mudança de modo que dificulta muito qualquer tentativa de ver os "panoramos panteônicos".
8- Haveria alguma evidência nos fragmentário conhecimento que temos da(s) religião(ões) da Ibéria céltica? Talvez. O caráter supremo dado a algumas divindades fluviais como Revis, traduza a importância mitológica de um determinado evento (como rios primevos derivados do sacrifício primordial...) relacionado ao deus, por exemplo.

>"ok, mas fora isso, há algum registro mais direto sobre a Ibéria?"
-sim, que eu saiba, Alfonso o sábio tinha a mão algo, vindo via romanidade -óbvio, quando compôs o seu Crónica General de España. Mas vir da romanidade não desqualifica diretamente a coisa, uma vez que pode haver preservado um substratum mais antigo. Fato é que há muitas semelhanças entre a narrativa do livro I da Crónica General, e algo do Lebor Gabála da Irlanda, como bem mostra este artigo publicado na Brathair (http://www.brathair.com/revista/br/07.02.2007.html)

pelo sr. Ramón Sainero.

Neste sentido, talvez fosse interessante (re-)construímos, com altíssimo grau hipotético, uma narrativa plausível, e quem sabe atém bem verossímil de uma narrativa "criacionista".

Mas, mais imediato as práticas, penso que seja os mitos "sazonais"...

Críticas, sugestões?

Inté!
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Mensagem  Manuel Araújo Qui Ago 18, 2011 2:12 pm

Da autoria de M. Diniz Nemetios
(Quarta-Feira, 16 de Junho de 2010)

Minhas desculpas, confundi uma informação preciosa: Não é a Crónica General de España de Alfonso X, mas sua General Estoria (também conhecida como Primera Crónica General).
Alguém sabe um link para o texto completo?

vejam que interessante (sobre fontes onde buscar informações irlandesas - o mesmo artigo do sr. João Lupi publicado numa edição da Brathair de 2008) http://www.cfh.ufsc.br/~planetar/textos/medieval.htm
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Mensagem  Manuel Araújo Qui Ago 18, 2011 2:16 pm

Da autoria de M. Diniz Nemetios
(Terça-Feira, 22 de Junho de 2010)

slania:tei

Outra narrativa originária interessante:

http://www.deinioljones.net/crabedus/creation.htm

Me vem a cabeça o seguinte, sobre tais narrativas:
1) Narrativa de "origem" do povo céltico da Ibéria.
>É a que temos mais indícios através de fontes greco-latinas e medievais, e que portanto permite uma reconstrução com maior grau de probabilidade.

2) Narrativa de "origem" do mundo.
>Há muito poucos vestígios, geralmente oriundos da cultura celta insular ou de fontes mais distantes. Concebo que podemos proceder:

a) simplesmente adaptando/interpretando à ibérica uma das três narrativas (touiso bitouos - de britannia insula - cintusuetlos albi),

b) congregando os elementos comuns e mais prováveis de acordo com os critérios traçados na primeira mensagem e construindo uma narrativa ou

c) começando de novo, ignorando as construções já realizadas, a partir de modelos mais gerais Indo-Europeus.

Para qualquer uma das alternativas é necessário aprofundarmos ou sistematizarmos as informações que temos sobre os deuses.

3) Narrativa de "origem" dos ciclos sazonais.
>Da qual não conheço nenhum vestígio especificamente ibérico, pelo menos que me lembre agora. Inclusive, gostaria de perguntar aos mais familiarizados com os folklores ibéricos se há alguma narrativa ou vestígios.

A narração apresentada pelo sr. Deiniol Jones combina engloba 3) dentro de 2).

Sugestões, críticas?

Inté!
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:pb:
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Mensagem  Manuel Araújo Qui Ago 18, 2011 2:28 pm

Nota pessoal : O link acima, da terceira mensagem, sempre esteve inválido desde que a li. Como já sigo Deiniol Jones há alguns meses, tomei a liberdade de procurar a narração acima descrita e creio que a encontrei no site dele: http://www.dunbrython.org/the-making-of-the-world.html

Relativamente a origem dos povos Célticos de uma dada região não achei nada, mas Deiniol Jones escreveu um conjunto de textos que juntos são um "mito proteico", ou seja, um mito que descreve a chegada de conhecimento inicialmente divino aos humanos.
Parte 1: http://cylchriannon.blogspot.com/2009/09/wetionos-pt-1.html

Parte 2: http://cylchriannon.blogspot.com/2009/09/wetionos-pt-2.html

Parte 3: http://cylchriannon.blogspot.com/2009/10/camulaunos-pt3.html


Eu próprio fiz uma adaptação, por volta de Dezembro, do "mito" presente no De Britannia Insula. Está infelizmente incompleta nas partes finais que deveriam explicar as origens dos Deuses mais novos, mas a parte inicial está finalizada (até achar algo melhor) e ainda nem cheguei à criação do primeiro casal humano, mas já tenho algo em mente. O contexto é obviamente gaulês e ademais das já existentes influências germânicas - despedaçar de Ymir/Cintugenátír - dei por mim a inserir um ligeiríssimo toque de moralidade Zoroastrianista apenas para justificar uma parte do "mito".
Por enquanto não estou com grande disposição para postá-la aqui, pois pode vir um não membro descobrir e copiar, mas estou disposto a enviá-la por MP. Wink
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Qua Set 07, 2011 10:27 am

Este é o tipo de assunto que me empolga por razões eminentemente práticas: minha filha mais velha já está a idade de escutar tais mitos e espero assim que dispor de mais tempo, ajudar a retomarmos estas reflexões e elaborações o mais aproximadas possível.

Fiquei curioso quanto a "moral mazdaísta", por favor, depois postes aqui!

Smile
Inté!
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Mensagem  Manuel Araújo Ter Jan 24, 2012 7:06 pm

Só agora é que me ocorreu que faltava responder a isto, que atraso tão grande!
Bem, vou aqui resumir o que acho apropriado para uma reconstrução de um mito de criação o mais geral possível; há que ter em conta que os povos Celtas estavam muito disseminados e quase certamente adaptaram as noções cosmogónicas originais às zonas em que se fixaram.


Situação pré-Criação

Como é habitual em alguns mitos conhecidos de origem Indo-Europeia - Theogonía, Völuspá, Rgveda e Bundahishn - antes de existir o cosmos, havia apenas um (infinito?) espaço vazio que por vezes era descrito como um abismo, desprovido de qualquer elemento e escuro; exemplos respetivos: Khaos, Ginnungagap (não consegui achar nome em Sânscrito para o exemplo Védico nem para o Persa).

1- Dá-se o aparecimento ora de uma destas entidades:
a) uma divindade de cariz omnipotente (termo debatível) e natureza algo passiva (Puruṣa, Dievas, Ahuramazdā (?))
b) uma ou mais divindades criadoras de todas as outras (Protogenoi: Gaia, Tartarus e Eros)
c) dois princípios/elementos cósmicos opostos (Niflheim e Muspelheim, Ahuramazdā e Angra Mainyu)
d) uma entidade descomunal de cariz divino nem sempre explicito (Puruṣa)
Estas quatro variações não têm de ser mutuamente exclusivas, podendo verificar-se mais que uma nesta fase.


Primeira fase de Criação

Estando o "cenário" - o vazio ou abismo - e as primeiras "personagens" fixadas, chega o momento da criação em si, apesar de que o mundo não aparece imediatamente, mas sim por fases.

1- Ocorre ação ou interação por parte das entidades/princípios:
a) criação direta/emanação (Puruṣa (?), Ahuramazdā)
b) criação por reprodução (Gaia, Tartarus e Eros)
c) criação como produto "acidental" de conflito (Niflheim e Muspelheim)

1.1- Tendo ocorrido as primeiras ações de cariz fundacional do cosmos, os resultados podem ser:
a) segunda geração de Deuses e outros seres (Dyauṣ Pitā e Pṛthivī Matā(?); Titânes; Búri; Aməša Spənta)
b) uma entidade descomunal de cariz divino nem sempre explicito (Ymir, Puruṣa) (esta opção repete-se devido à ordem seguida no Völuspá)
No caso Nórdico, ambas as opções estão de certa forma interligadas.


1.2- Pode ainda haver espaço de tempo para:
a) uma terceira geração divina (Dodekatheon, Devas (?))
b) criação da maior parte dos elementos do cosmos (per Bundahishn)


2- Existe, frequentemente, uma temática de sacrifício após a fase anterior:
a) sacrifício de um Deus por parte de um ou mais descendentes (Krónos)
b) sacrifício de uma ou mais entidades menores criadas (Gayō Marətan e primeiro touro)
c) sacrifício da entidade descomunal pelos seus descendentes/emanações (Puruṣa, Ymir)


Segunda fase da Criação

1- O dito sacrifício geralmente tem um dos seguintes resultados:
a) mudança da hegemonia entre os Deuses (Dodekatheon)
b) originam-se novos Deuses, por vezes associados diretamente a elementos do cosmos e ao mundo em si (Devas (?), Æsir)
c) geração de novos elementos no mundo através da morte de entidades menores (Gayō Marətan e primeiro touro)


Terceira fase da Criação

Estando o mundo já criado e podendo ser considerado idílico, dá-se a terceira fase e (creio eu) última fase da Criaçao:

1- Através de uma variedade de atos, surgem os humanos tipicamente um casal:
a) A morte do ser menor sacrificado (Gayō Marətan) resulta numa semente, que gera uma planta que origina um casal (Mašyā e Mašyānē)
b) Uma tríade de Deuses (Vili/Lóðurr, Vé/Hœnir e Óðinn) encontra duas árvores e dá-lhes forma e capacidades humanas (Askr e Embla)
c) um Deus (Prometheus) dá forma aos humanos através de um material ao seu dispôr (barro) (poderá estar contaminado por influências do Médio-Oriente)



Tomando estas propostas acima como minimamente corretas, ficam a faltar os exemplos Celtas.
Reproduzirei integralmente o conteúdo de um documento que me mandaste Marcílio, abaixo para facultar possíveis provas:

"-A composição comum com o mundo
>Codex Claredoniensis XV. 7. 4183. "Antes de deixar este assunto aventuro em inserir do Cod. Clarend. XV. fol. 7, p.1, a, a MS. no museu Britânico (adicional, 4183), um mito que é particularmente interessante de sua próxima correspondência com as tradições Teutônicas cotadas por Jacob Grimm no Deutsche Mythologie S. 531 et seq. Confesso que a mim tem algo de aparência Talmúndica. Uma passagem algo similar, pois, ocorre no Yàjnavalkya's Dharmaçástram (ed. Stenzler) iii. 76-78. Ver, tambem, Die Traditionelle Literatur der Parsen de Spiegel, S. 116.

"Is fisigh cidh dianderna[dh] adham .i. do vii[i] rannaib: in céd rann do talmain: indara rann do muir: in tres rand do ghrein: in cethramha rann do nellaib : in cuigid rann do gaith: in sé[isedh] rann do clochaibh : in sechtmadh rann don spirad naomh: [intochmadh rann do soillsi in domuin]."

"É de valor saber de que Adão foi feito, i.e. por oito partes: a primeira parte, de terra; a segunda parte, de mar, a terceira parte, do sol, a quarta parte, das nuvens, a quinta parte, do vento; a sexta parte, de pedras; a sétima parte do Espírito Santo, [a oitava parte, da luz do mundo]."

"Rand na talman, as í sin in colann in duine : rann na mara, is í sin fuil in duine: rann na greine a ghne 7 a dreach: [rann donéllaib...]; rann na gaoithe anal an duine: rann na cloch a chnamha : rann in spirada naoiin in anmain [leg. a anam]: an rann dorighne[dh] do soillsi in domuin as í sin a chráigheacht [leg. Chráibhdheacht]."

"A parte da terra, isso é o corpo do homem; a parte do mar, isso é o sangue do homem; a parte do sol, sua face e seu semblante; [a parte das nuvens ...]; a parte do vento, o sopro do homem; a parte das pedras, seus ossos; a parte do Espírito Santo, sua alma; a parte que foi feita da luz do mundo, isso é sua piedade."

"Madhi in talmaidhecht bhus fortail isin duine bud leasc. Ma[d]hi in muir budh enaidh. Madhí an grian bud alainn beódha. Madhiat na neoil bud etrom druth. Madhi in gaoth bud laidir fri gach. Madhiat na clocha bud cruaidh do traotha[dh] 7 bu gadaighe 7 bu sanntach. Mad[h]í in spirad naomh bud béodha deghgnéach 7 bud lan do rath in scribtuir dhiadha. Ma[d]hi in tsoillsi bú duine sográdhach sotoghtha."


"Se for a mundanidade prevalecente no homem, ele será preguiçoso. Se for o mar, será variável. Se for o sol, será bonito, vívido. Se for as nuvens, será leve, tolo. Se for o vento, será forte para qualquer um. Se for as pedras, será duro de subjugar e será um ladrão e cobiçoso. Se for o Espírito Santo, será vívido, de boa compostura, e cheio de graça da divina escritura. Se for a luz, será um homem amável, sensível."

(W.S. Three irish glossaries: Cormac - O'Davoren - A glossary to the Calendar. London: Williams and Norgate, 1862. p. xl-xli)

-Os elementos
Proto-Céltico:
I. *talamōn- > *kolānyā
II. *mori- > *wayto-
III. *gwrensnā > *drikā
IV. *neglā > *ambi-rādo-
V. *gayto- > *anatlā
VI. *klokeryā > *knāmi-
VII. *anaman- > *anaman-
VIII. *lowksno- > *krābi(tu)-
?(IX). *kwresno- > *wanso-

Searles O'Dubhain (http://www.imbas.org/articles/elements_duile.html)


Fein (O "Self") | Bith (Cosmos) | Direções | Ferramentas Mágicas

1. Cnaimh (Ossos) | Cloch (Pedra) | Thuaidh (Norte) | Lia Fail (Destino)
2. Colaind (Carne) | Talamh (Terra) | Faoi (Em cima, Sobre) | O Nemeton
3. Gruaigh (Cabelo) | Uaine (Planta viva) | Amach (Para fora) | Ogham e ervas
4. Fuil (Sangue) | Muir (Mar) | Ior, Siar (oeste) | Inesgotável (Cauldeirão)
5. Anal (Sopro) | Gaeth (Vento) | Air, Oithear (leste) | A Espada de Nuada
6. Imradud (Mente) | Gealach (Lua) | Isteach (Para dentro) | O poço de Segais
7. Drech (Face) | Grian (Sol) | Deas, Deis (Sul) | A lança de Lugh
8. Menma (Cérebro) | Nel (Nuvem) | Thrid (Através) | Imbas (Inspiração)
9. Ceann (Cabeça) | Neamh (Céu) | Os Cionn (A cima) | O Torque/Halo

Comparando:
1. > VI.
2. > I.
3. > IX?.
4. > II.
5. > V.
6. > ???IV.
7. > III.
8. > ???IV.
9. > ???VIII.

Podemos postular o IX tranquilamente - não vejo problemas. No entanto, 6 Searles O'Dubhain relaciona à Lua - e não há "lua" na passagem do texto irlandês que postamos; a "mente" é relacionada com "as nuvens"- enquanto "as nuvens" no sistema de O'Dubhain são relacionadas com algo que não há no trecho irlandês que postamos antes: "cérebro". O mesmo com 9, de modo que temos problemas de compatibilidade em 6, 8 e 9; além de haver ficado faltando o VII > "alma".

Tentarei agrupar o sistema do trecho do texto irlandês (+ o acréscimo de "planta/árvore > cabelo") em 3 grupos pelo critério de "semelhança":
a) Osso - Corpo - Cabelo (estrutura, firmeza, proteção/cobertura)
b) Sangue - Sopro - Alma (calor, movimento, vida)
c) Face - Piedade Religiosa - Pensamento (aspecto público/honra/reconhecimento, fé/subjetividade, vida intelectual)

No sistema de Searles O'Dubhain há 4 coisas em c): Face, Mente, Cérebro e Cabeça. Ou seja, uma destas coisas precisa ser ressignificada. Sugiro que o que o texto irlandês chama de 'soillsi in domuin' (lux mundi), pelo caráter de "luz" podemos relacionar ao que O'Dubhain nomeia "gealach" (lit. "radiante" > "lua"), e no lugar de "mente" (imrádud) teríamos "piedade religiosa" (crábud) e poríamos "mente" no lugar de "cérebro" (menma) - tornando a mesma equivalência que o texto irlandês descreve - no entanto, a palavra menma em irlandês antigo, também significa "inclinação"; e me parece mais adequado relacionar "inclinação" com "piedade religiosa".
Neste caso, relacionaremos "cérebro" com "piedade religiosa" e trocaremos a referência à "nuvem" por "lua". No entanto, nos resta "céu > cabeça" (neamh > ceann) que relacionaremos arbitrariamente com "alma" (é uma relação adequada? A faço intuitivamente...). Teremos, pois:
a) Ossos - Carne - Cabelo
b) Sangue - Sopro - Cabeça
c) Face - Cérebro (< Piedade Religiosa) - Mente

***Para "elementos" o Irlandês Antigo registra 'aibgitir' e 'dúile'. 'Dúil' significa "ser, coisa, elemento, criatura" ('Dúilem' significa "Criador" nos textos cristãos). Tal termo - segundo o que pesquisei - parece derivar do Proto-Céltico *dal-n- "vir a ser" e *dol-V- "folha, folhagem", que assumirei reconstruíndo a raíz *dowl(n)yā "o que veio a ser, coisa que foi gerada, elemento".

O HOMEM É COMPOSTO DE ELEMENTOS:
Is an fhear dúilech:
Uiros dūliācos essi:
:uiros:douliakos:esti

I. terra > corpo
II. árvore > cabelo
III. mar > sangue
IV. sol > face
V. nuvem > pensamento
VI. vento > sopro
VII. pedra > osso
VIII. espírito > alma
IX. luz > devoção/piedade religiosa

I. talam > colann
II. crann > folt
III. muir > fuil
IV. grian > gne/dreach
V. nel > menma/imrádud
VI. gaothe > anal
VII. cloch > cnamh
VIII. spirad naomh > anam
IX. soillse in domuin > crábud/crábdecht

I. talamū > colanī
II. prennon > uoltos
III. mori > uaitos
IV. grēnnā > agedon
V. nelā > menman
VI. auelā > anatlon
VII. alisiā > cnāmis
VIII. anamū > anation
IX. leuceton > crābið

I. talamu::kolania
II. krennom::uoltos
III. mori::uelis
IV. greinna::enekom
V. nela::ambiradom
VI. uintos::anatla
VII. alis::askornus
VIII. anamu:anatiom
IX. lestus::krabitus

-Seria o ser humano feito a partir de uma árvore (um teixo)?
>a reconstrução irlandesa contemporânea de um mito (An miotas Caillte Ceilteach Cruthaithe)
>paralelos no mundo grego e escandinavo.

Mito da origem humana
-Tradição comum
>a descendência de um deus Dis (CÆSAR, De Bello Gallico: 6. xviii.) Donn mac Míled, etc.
-Origens particulares
>Gauleses – Dis (CÆSAR idem) - Descendentes de Hércules (DIODORVS SICVLVS, Bib. Hist. V. xxi-xxiv) - migrados de terras além Reno e miscigenados com a população local (AMMIANVS MARCELLINVS, I.178-9) – Descendentes dos Troianos (KOCH, J. T. 2006. p. 1132)
>Celtibéricos – Descendentes de Hércules (STRABO, Geog. III, 4, iii & ALFONSO X, O SÁBIO.,
Cron. Gen. De Esp. I)
>Gaélicos – Donn mac Míled, sucessivas ondas de imigração – a mais notável vinda da Ibéria (há muitos textos irlandeses para citar, é melhor dar um resumo geral do Lebor Gábala e do Auraicept na nÉces e do Can a mbunadus na nGoidel?, etc.).
>Galeses – Descendentes de Brutos ou Brittos (Historia Brittonum) – descendentes de Prydein (Enweu Ynis Brydein, Historia Regum Britanniæ, etc.)

A organização social
-Tripartição dumeziliana e as classes
>artesão, produtor
>guerreiro
>sacerdote
>supra funcional: o soberano
-A coesão social

Recapitulação geral
Outros textos interessantes:

"Bum yn lliaws rith
Kyn bum kisgyfrith."

"Estive numa multiplicidade de formas
Antes de assumir um aspecto constante."

De: Kat Godeu (A Batalha das Árvores), Llyfr Taliesin VIII (Livro de Taliesin, 8 )
"Gvolychaf vyn tat.
Vyn duw vyn neirthat.
A dodes trwy vy iat
Eneit ym pwyllat.
Am goruc yn gwylat.
Vy seith llafanat.
O tan a dayar.
A dwfyr ac awyr.
A nywl a blodeu
A gwynt godeheu.
Eil synhwyr pwyllat
Ym pwyllwys vyn tat.
Vn yw a rynnyaf.
A deu a tynaf.
A thri a wedaf.
A phetwar a vlassaaf.
A phymp a welaf.
A chwech a glywaf.
A seith a arogleuaf."


"Adorarei meu pai,
meu Deus, meu fortalecedor,
que introduziu por minha cabeça
uma alma para guiar-me,
que para mim fez no discernimento
minhas sete faculdades.
Do fogo e da terra,
da água e do ar,
de brumas e flores
e do vento meridional.
Outros sentidos da consciência
para mim teu pai criou.
Um é o instinto,
com o segundo eu toco,
com o terceiro chamo,
com o quarto saboreio,
com o quinto vejo,
com o sexto ouço,
com o sétimo cheiro."

De: Kanu y Byt Mawr (A Canção do Macrocosmo), Llyfr Taliesin, lv (Livro de Taliesin, 55)
Na Introdução do "Senchus Mór" (um texto jurídico composto na época de Lóegaire, o último rei pagão da Irlanda) está escrito:

"Ina diaig sin Connla Cainbrethach, sui Connacht; do roiscridhe do feraib Erenn i ngais, os e co rath in Spiruta naoim; is é do-gne conflicht na Druidhe, asberddissidhe badur et do dena nem ocus talam ocus muir, 7rl."

"Depois dela veio Connla Cainbrethach, grande sábio de Connacht; ele ultrapassava todos os homens de Ériu em sabedoria, pois era um "file" com a graça do Espírito Santo; ele costumava discutir com os Druidas, que diziam terem feito o céu e a terra e o mar, etc.""


Tendo em conta o que foi acima descrito, irei indicar as minhas preferências no que toca a um mito da criação num ponto de vista o mais Proto-Céltico possível, tendo em conta os pontos que enumerei antes da transcrição e usando a "nomenclatura" deste documento http://pt.scribd.com/doc/77632414/Types-of-Gods-in-Gaul (devidamente traduzida).


I- Existe o típico vazio (*wāsto-) antes da criação.

II- Dois elementos cósmicos opostos, fogo (*teφnet-) e água (*dubro-) > "fogo e água irão, eventualmente, prevalecer" - Estrabão, Geographica.

III- Os dois elementos expandem-se e chocam.

IV- Gera-se uma entidade descomunal (super-Deus ou um gigante?)

V- Sacrifício da entidade descomunal pelos seus descendentes/emanações (três Deuses e três Deusas)*

VI- Originam-se novos Deuses associados diretamente a elementos do cosmos (isto por causa do dito acima, acerca de um "homem" ser composto por vários elementos)

VII- O Deus do Submundo cria os humanos através de árvores.**


*Deuses primordiais:
- ? > Deus da Costa/Mar
- Perkʷunos > Deus do Trovão/Tempestade
- Welnos > Deus do Submundo

Deusas primordais:
- Deh2nu > Deusa dos Rios
- ? > Deusa da Soberania
- Pltwih2 > Deusa da Terra


** Como é dito no Senchus Mór, os druidas diziam ter criado os três mundos, o que me fez pensar que a original função da humanidade era ajudar na manutenção do cosmos através da religião. A dita manutenção seria necessária não só devido aos constantes ciclos de decaimento e regeneração (fases da lua, estações, etc) mas também devido ao eminente alastrar do fogo e da água que causariam um talvez ciclico destruir do cosmos. Assim sendo, como na fé Védica, seria necessário periodicamente realizar um rito sacrificial que imitaria o sacrifício original do "super-Deus" ou gigante (leiam sobre o rito Puruṣamedhá). E, tal como no Zoroastrianismo, poderia ser que, portanto, função da criação dos humanos fosse somente ajudar a manter a ordem no cosmos.



E é tudo, pelo menos por agora. Smile

P.S- Marcílio, sugiro que - caso o desejes - publiques os resumos dos seminários que me enviaste na tua conta Scribd. Wink
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Sex Jan 27, 2012 11:39 am

Maravilha Manuel, agradeço por trazer este material (está "empoeirado" em algum local entre os inúmeros arquivos).

Bem, o trecho V (da geração de uma entidade descomunal) talvez tenha alguma relação com a geração de uma deusa iconograficamente relacionada à vaca (como a gaélica Boand, além da relação com a vaca nórdica primordial que lambeu o gelo fazendo aparecer Ymir) e ao rio primevo (*Deh2nu-). Que tal darmos umas olhadas nas narrativas (re-)construídas antes de contextualizarmos a nossa?

Antes, um blog interessante com mais noções gerais (clica para ver). Há o Gabháil Cheasrach, o "Construção do Mundo", já postado, do Brython; o "Touessus Bitous" do Druides du Quebèc/KG, o "De Britannia Insula", o "Cintusuetlos Albi", e a noção do "Oran Mór". Fora estas, achei um tanto quanto na doida, uma coisa breve e sem autoria (clica para ver).

Smile
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Mensagem  Manuel Araújo Dom Jan 29, 2012 9:21 am

Eu estaria mais inclinado a ver a Deusa associada à vaca "cósmica" como esta sendo uma das três Deusas emanadas - na minha opinião - pelo dito ser descomunal (tendo em vista parecenças com os mitos nórdico e védico).
Porém, a dita Deusa teria um inicial papel de poder alimentar os outros Deuses e de criar o primeiro rio. Agora se o mito poderá refletir aquele de o poço de Segais desfigurar e matar Bóand (será esta uma pista de sacrifício de vacas?), ou se acontece de outra forma, não podemos saber ao certo.

Bem, de todos esses que mostraste, estou inclinado para preferir o De Britannia Insula, a primeira "história" do website sem autoria e parte do Gabháil Cheasrach (especialmente no que toca aos Fomoiri). Smile
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Qua Fev 29, 2012 10:43 pm

Pois é, a questão agora é reunirmos os elementos-base, se for o caso discuti-los, para com inspiração escrevermos uma narrativa (ou versões) moderna que soe interessante e fundamentada, e talvez - com sorte, provável.

Se já houvesse um trabalho decentemente firme na linguística e tivéssemos já idiomas mais solidamente reconstruídos, eu até assumiria uma baita tarefa de compor um poema (numa métrica arcaica Indo-européia) para tal. Memorizá-lo seria o cúmulo do exagero, heheh Cool

(obs. A propósito, estou momentaneamente um pouco distante do forum por causa de uma reorganização laboral, mas sempre cá passo, nem que seja rapidinho e espero me organizar para dar continuidade ao projeto e escrever postagens maiores e mais dignas, pois.)
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