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Rito Doméstico para Luas Novas (originário da lista Recons IberoCeltica)

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Mensagem  Manuel Araújo Ter Ago 23, 2011 9:41 am

Da autoria de [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
(Terça-Feira, 20 de Julho de 2011)

PARA AS NOVAS (nouizoiskiom / noviioesciom - lua nova)

-No anoitecer, imediatamente após o pôr do sol em 2 de cada mês lunar.

-Deve-se escolher uma língua.

-Materiais: fogo da casa (vela, chama do altar, etc.), água pura (mineral, da chuva, etc.), um pouco de azeite (oferenda), leite, pão, doces ou bolacha (oferenda principal, pode ser parte da janta também, o ideal é que seja feita por alguém da casa), bebida e recipientes (se assim desejado, use um véu/manto sobre a cabeça, deixando parte do topo frontal da cabeça descoberta).

-Práticas caseiras: arrumação, poda/corte (visando crescimento), mudanças, etc.


Limpeza.
Reserve uma pequena parte da água pura. O restante coloque numa bacia, diga: noibaguas, loukatas aguas, me glande ekue me sumelmanzem gabie / nemidaguās, louciās aguās, glande me indi vrege me com mentovesuÄ "águas santas, ó água luzente, purifica-me e deixa-me com boa mente" lave as mãos e o rosto. Despeje a água restante da bacia no chão fora do teto da casa.

Fogo.
Acenda o fogo sagrado concentradamente enquanto diz, ou caso o fogo já esteva aceso diga: Maiduna Aidutrebiaka con'suaiduez guedian ekue abertam roberses / Munis Caria CantibidÅ«, guedian com aedovesuÄ" indi roberses tÅ« abbertām "ó *Deusa do Fogo Doméstico (confira o site da Senakokredima) + *epíteto, que eu ore com boa chama e que aceites a oferenda", liba-se alguns pingos de azeite na chama.

Sacrifício.
Diante do altar, em posição de oração, recita-se:

Matres Suli'kue,
Io trebiam genim'kue mou ueis alomuz,
Io aidum trebias mou alomuz,
abertam mou robersete.


Nabia indi Bandi,
Alomuio trebām indi toudām mo,
Alamuio aedum trebās mo,
robersete mo abbertām.


"*Deusa da Terra antiga e *Deusa-Rio,
vós que alimentais minha casa e meu povo,
que alimentais a chama da minha casa,
recebei minha oferenda."

Aspirja água pura sobre as oferendas; liba-se o leite na terra e quebra-se o(s) biscoito(s), com as mãos, em dois. Se queima uma metade (caso o tamanho do fogo assim permita, caso não se permita – seja uma vela por exemplo, o pedaço pode ser guardado até ser queimado em um fogo maior) ou se deposita num local natural (aos pés de uma árvore, no topo de uma colina ou nas margens de um rio, lagoa) e se come a outra (caso haja mais participantes - familiares, amigos - a metade é dividida).

Diante da porte de entrada da casa ou voltado para ela, em posição de oração, recita-se:

Bormane Bormana'kue Diniziokoi¹
Ueis trebiam argatom'kue duoram'kue anegetez
Kom'neituei sulamubos'kue equubos,
Umei kon'sumelmanzem,
Tei atibertom mou roberses.


Arentie indi Arentia (Dinisaecoi)¹,
Sves anegeteio trebām indi argantom indi duorām mou
Com nituÄ" indi sulamobos equobos,
UmÄ" guediu com mentovesuÄ",
TÄ« roberses atibertom mo


"*Deuses-Gêmeos + epíteto familiar,
vós que protegeis minha casa, meu dinheiro e minhas portas
com ardor guerreiro e cavalos ferozes,
a vós eu rezo de boa mente,
para que aceitais meu sacrifício"

¹epíteto familiar - "ó Arencio e Arencia dos Diniz", por exemplo.

Aspirja água pura sobre a oferenda, parte-se o pão em dois, com as mãos. Se oferta uma metade conforme exposto acima, e se consome a outra.

Continuação.
Caso, haja algum outra oferenda, oração ou prática a ser feita (para prosperidade, cura, melhora, mudança diretamente benéfica), esta é realizada.

Finalização.
Segurando uma pátera com a bebida a ser libada (ou mesmo o restante da água pura separada para aspergir o biscoito/bolacha), se diz: aberta teiuus rodaz, sua dematim, samaliz senatres mou didasonti uta trogoi mou dasionti / abbertā ro·das dÄ"vus, sua dedmadem, samalid mo senistres dedant indi mo genoi dasient "a oferenda aos deuses foi dada, como sustenta o costume, como meus ancestrais deram e como meus descendentes darão" e liba-se a bebida.


Inté!
:m:d:
:pb:
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Mensagem  Manuel Araújo Ter Ago 23, 2011 9:44 am

Nota pessoal: Tal como na mensagem sobre os ritos para a Lua Negra, as traduções callaeco-lusitanas foram estragadas pelo Yahoo que não reconhece os símbolos de macron.
Marcílio, quando puderes... Embarassed
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Qua Set 07, 2011 10:22 am

Ok Manuel, tenho mesmo que rever algo da estrutura sintática e tal das frases, além do endereçamento ao deuses em si. Dos ritos todos domésticos, eu e minha mulher melhoramos algo e particularmente, com a experiência, creio que mudei um pouco minha visão da importância e da metafísica do lar e do culto doméstico em si. Assim que dispor de mais tempo reviso e corrijo os erros, assim como posto direitinho com os macra.

Em todo caso, mui grato novamente.
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Qua Jan 11, 2012 4:03 pm

Creio que a estrutura básica do rito tem funcionado bem. Daí que apenas apontarei alguns detalhes.

Ablução (purificação pela água, das mãos e rosto/testa do oficiante e familiares).
Português: "água santa, água luzente, purifica e deixa com boa mente"
Galaico/Lusitânico: "nemidā aquā¹, louciā aquā, glande indi dae sumoumanem²"
Keltiberika: "noibā akuā, loukiā akuā, glande ekue sumelmanzem me gabie"
---
¹Há atestado na região galaica para "água": anā, e não sabemos se o epíteto galaico AGUAECO se refere a "água" (neste caso, ao invés de "aquā" o termo serria - como em português moderno - "aguā"), a mesma raiz (*akwā) em lusitânico daria algo como **apā.
²Para "boa mente" (no sentido do latim libens), seria um composto de *su- + "mente", para mente não temos nenhum raiz atestada na área lusogalaica, com a possível exceção do teônimo MVNIS (que mais provavelmente vem de "monte, outeiro" *monit- < IE *mon-ti-) - daí que talvez um termo adequado seja *su-kwēslā ("boa mente/espírito/razão"), que daria em galaico **suquēllā, e em lusitânico **supēllā/supillā. Fora *menman- (que daria algo como **mewman- > **mowman-) "mente, pensamento", temos *mentyon- "ato de trazer a mente, menção, pensamento", além de *briti- "juízo, pensamento, intento"

Para o fogo doméstico.
Português: "ó elevada dos inícios, deusa do caminho nos ofícios, que o trilume aceso se veja, e que a inspiração conosco esteja"
Galaico/Lusitânico: "Vārridēva¹, lēstu trebaedōs, guediammī con vesuaedū indi roberases tū abbertām" ("ó deusa da aurora, luz do fogo da casa, que eu ore com fogo excelente e que tu recebas a oferenda")
Keltiberika: "Ussama Uārios, kon·uesuaiduez guezammio ekue abertām roberasesio" ("ó Altíssima da Aurora, que eu ore com fogo excelente e recebas a oferenda")
---
¹"Aurora" > PrC: *wāsri-, que daria ou **vārris/vāris ou **vāsris (há pelo menos um caso atestado da preservação do -s- antes de um -r-, no antropônimo vetão SRIACVS)

Invocações: as deusas.
É necessário definir qual panteão iberocéltico será honrado no rito doméstico, para isto é bom conferir a [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]. No geral, a ideia é que as deusas-mães e deusas-rios sejam honradas num primeiro momento, lembrando sua importância vital (na alimentação e hidratação) no fluxo criativo do início do mês (e de eventual relação com o Outromundo ainda neste processo).

Para os lusitanos: as Matres, Devā, Lurū ou Naviā (e talvez Lānianā)
Para os vetões: talvez Togā e Ilurbedā
Para os galaicos: as Matres, Naviā e (para os do norte) Rēvā, ou talvez (para os do sul) Limiā.
Para os astures: as Matres, Obanā/Obionis, Varnā (e talvez mesmo Eponā/Epannā)
Para os celtibéricos: as Matres (talvez as Duillās) e Silbis

Invocações: os pares divinos.
Novamente, é necessário definir de antemão o panteão de culto. No geral, aqui a ideia é homenagear as divindades protetoras da propriedade da casa, portas e das posses família e pedir-lhe que inspirem fortaleza, força e proteção no início do ciclo.

Para os lusitanos: Arentio e Arentiā
Para os vetões: ? (talvez Turcūlā, Toga e Togotis)
Para os galaicos: os Equeuni (para os do norte), ? (para os do sul, talvez Durvēdicos ou Oceris).
Para os astures: ? (as Lugunās)
Para os celtibéricos: ? (talvez Boiogenā)

Finalização.
Português: "a oferenda foi dada, em conformidade com o costume sagrado, como nossos ancestrais deram e como nossos descendentes darão"
Galaico/Lusitânico: "abbertām ro·dās¹, eri dedmadem, samalid seni² dedantoro indi geni dasonti"
Keltiberika: "abertām ro·dās, eri dedimatem, samaliz senoi dedantoro ekue genoi dasontes"
---
¹As formas verbais são difíceis e equipolentes em vista da falta de evidências, podem ser: 1) "foi dado" *phro-dās ou *de-dāto-, 2) "deram" *de-danti ou *danto(ro)so ou ainda *de-dantoro e 3) "darão" *dasienti, ou *desont(es) ou *dasont(es). Em celtibérico temos atestado a forma imperativa "dê" ou mais precisamente (numa espécie de imperativo futuro) "deve dar, tem de dar" com sujeito enclítico ("deve dá-lo") como 'datuz' (no Bronze de Botorrita III)... No caso do perfeito, o celtibérico (no mesmo bronze) registra uma forma "tenha/tiver colhido, foi colhido" como 'robiseti' (< *phro-bi(n)-s-eti), o lusitânico registra a forma da terceira pessoa do presente simples "dão" > 'DOENTI'.
²O nominativo plural dos temas em -o, era arcaicamente -oi (ou seja, "antigos" - senoi - e "filhos, descendentes" - genoi)

Sugestões? Por favor...
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Mensagem  Manuel Araújo Qui Set 06, 2012 12:46 pm

Que tal usar este pequeno hino que [segundo dizem] está no "Camina Gadelica", adaptado ou não, e traduzido para as línguas Celtas Ibéricas?

"Hail to thee, thou new moon,
Beauteous guidant of the sky;
Hail to thee, thou new moon,
Beauteous fair one of grace.

Hail to thee, thou new moon,
Beauteous guidant of the stars;
Hail to thee, thou new moon,
Beauteous loved one of my heart.

Hail to thee, thou new moon,
Beauteous guidant of the clouds;
Hail to thee, thou new moon,
Beauteous dear one of the heavens!"
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Dom Set 09, 2012 10:32 pm

Vamos lá, pois - farei o seguinte: postarei a versão em gaélico escocês, depois a em Proto-céltico e por último a em céltico hispânico (galaico e em celtibérico).

CARMINA GADELICA III, 303.

Fáilt ort féin, a ghealach ùr,
Àilleagan iùil nan speur;
Fàilt ort féin, a ghealach ùr,
Àilleagan fionn na fèil.

Fáilt ort féin, a ghealach ùr,
Àilleagan iùil na reul;
Fáilt ort féin, a ghealach ùr,
Àilleagan rùin mo chléibh.

Fáilt ort féin, a ghealach ùr,
Àilleagan iùil nan neul;
Fáilt ort féin, a ghealach ùr,
Àilleagan cùmh nan nèamh!

Em Protogaélico, provavelmente seria algo parecido com isso:

Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,*
Alli(u)aganā ieūlos (u)esqueri;
Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,
Alli(u)aganā uinnā uēlēs.

Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,
Alli(u)aganā ieūlos rētugloisson;
Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,
Alli(u)aganā rūnā moni clīaui.

Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,
Alli(u)aganā ieūlos (s)noulon/ne(g)lon;
Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,
Alli(u)aganā uinnā nemiā!

---
*Como não se sabe bem quando o *-w- foi assimilado ao -f- no goedélico, poder-se-ia ter, por exemplo: 'Uail(u)tī uorte (s)uēni, a gelāca ūra,' > 'Failtī forte fēni, a gelāca ūra,'.

Em Protocéltico:

*Waydā* (Way-l-ut-yā/Slānyā) te, ā gelāka** ūra/nowyā,
(φro-)Berχtā/Kani-mārā/Ad-liwo-anā (Ad-liwo-genā) φare-layā/to-wissu weskweroyo;
Waydā (Way-l-ut-yā/Slānyā) te, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)Berχtā/Kani-mārā/Ad-liwo-anā (Ad-liwo-genā) windā weilyos.

Waydā (Way-l-ut-yā/Slānyā) te, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)Berχtā/Kani-mārā/Ad-liwo-anā (Ad-liwo-genā) φare-layā/to-wissu reido-gloystōm/sterānom;
Waydā (Way-l-ut-yā/Slānyā) te, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)Berχtā/Kani-mārā/Ad-liwo-anā (Ad-liwo-genā) rūnā***/(ad-)karā monoyo/mowoyo klīwoyo.

Waydā (Way-l-ut-yā/Slānyā) te, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)Berχtā/Kani-mārā/Ad-liwo-anā (Ad-liwo-genā) φare-layā/to-wissu snowdōm/ni(g)lānom;
Waydā (Way-l-ut-yā/Slānyā) te, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)Berχtā/Kani-mārā/Ad-liwo-anā (Ad-liwo-genā) windā nemesos!


---
*waydā é "clamor, alarido, grito", cuja base é a interjeição antiga *way e é a provável fonte do irlandês antigo "fáilte" > "saudação, ave, salve, alegria".
**gelāka "radiante", para "lua" temos em Protocéltico *lugrā e *ēskyo-
***rūnā "segredo, encanto secreto", a ideia aproximada seria de *kom-rūno- "confidente"

Em keltiberika, pois:

Slāniā (Uaidā) te, ā gelāka* nouizā,
Robertā/Alliuanā arelaiā/touizu ueskuero;
Slāniā (Uaidā) te, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā uindā ueilios.

Slāniā (Uaidā) te, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā arelaiā/touizu reidogloistūm/steraūm;
Slāniā (Uaidā) te, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā karā mouo klīuo.

Slāniā (Uaidā) te, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā arelaiā/touizu snoudūm/nilaūm;
Slāniā (Uaidā) te, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā uindā nemesos!

---
*para "lua", ainda se pode utilizar 'lukarā' ou 'eiskiom' (neste caso, o adjetivo "novo" fica 'nouizom').

Em callaeco (e provavelmente lusitano):

Vaedā (Slāniā) te, ā gelaeca* noviā,
Andobertā/Allivanā ar(e)laiā/toissu vesqueri (lusitano 'vesperi');
Vaedā (Slāniā) te, ā gelaeca noviā,
Andobertā/Alivanā vindā vēlios.

Vaedā (Slāniā) te, ā gelaeca noviā,
Andobertā/Allivanā ar(e)laiā/toissu steraōm/rēdogloestōm;
Vaedā (Slāniā) te, ā gelaeca noviā,
Andobertā/Alivanā carā mo(v)i clīvi.

Vaedā (Slāniā) te, ā gelaeca noviā,
Andobertā/Allivanā ar(e)laiā/toissu nilaōm;
Vaedā (Slāniā) te, ā gelaeca noviā,
Andobertā/Alivanā vindā nemesos!

---
*para lua, novamente temos 'ēsciom' (cujo adjetivo fica 'noviom') ou 'lugrā' (talvez 'lūnnā' < *lowxsnā).
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Rito Doméstico para Luas Novas (originário da lista Recons IberoCeltica) Empty Re: Rito Doméstico para Luas Novas (originário da lista Recons IberoCeltica)

Mensagem  M· Diniz Nemetios Sex Nov 16, 2012 7:46 pm

Utilizando tudo o que foi postado acima, eis uma síntese litúrgica que proponho que compartilhemos e oficiemos em comum.

Rito doméstico para a lua nova (*lītus trebākos nowiyo-ēskyōi)

Materiais

  • Altar doméstico e o recipiente para o *trebā-aydu (com os devidos materiais inflamáveis, pode ser uma vela cortada em três pedaços iguais)
  • Recipiente para oferendas (*lestro-; para vasilhames de madeira o nome é *druχto-)
  • Pátera ou chifre-de-beber (*φatnā; um chifre-de-beber valioso e distinto para uso ritual – como insígnia – é chamado em IrA 'fethal' > *wet-alo- etimologicamente ligado ao verbo *wet-o- “estar familiarizado, conhecer, perceber” que sugere que o termo tenha um significado mais geral de “coisa distinta, facilmente percebida, insígnia”, na Irlanda, ao menos, era comum dar nome aos chifres-de-beber pessoais de sujeitos distintos)
  • Oferendas (*ad-bertās) para a ocasião (1. azeite, 2. grãos/leite, 3. incenso/bebida alcoólica/pão e 4. incensos/bebidas-alcoólicas)
  • Instrumento (*korno- corneta ou *klokko- sino)
  • Opcionais: manto (*bratto- ou *brattino-, ou ainda “capa” *tīg- ou *sago-; o oficiante pode por uma túnica *ruk- própria, caso deseje) para o oficiante (os demais adultos, caso desejem, podem cobrir a cabeça com toucas, véus ou xales *linnās), lira ou instrumento musical para acompanhamento, etc.


Pressupostos

  • Uma pessoa deve assumir a liderança do rito, tradicionalmente o “chefe” da casa – o pai de família (*φatīr wenyās → *wenyātīr ou *wiros tegesos, IrA: fir tige ou *trebā(ta)kos IrA: treb(th)ach), ou na ausência deste da mãe (*matīr wenyās → *wenyāmatīr), esta deve (considerando que seja quem cozinha e lida como fogo doméstico mais frequentemente) realizar as invocações, acender e ofertar no (re-)acendimento da chama sagrada.
  • É de se esperar que os filhos e demais moradores da casa participem do rito
  • O ideal é que toda as atividades das pessoas da casa (assistir TV, trabalhos, etc.) sejam paradas para o rito
  • Ao final de cada oração pode-se dizer (eu e meu grupo mesmo sempre utilizamos) *sua biyetod


Preparações

  • Um dia de finalizações de limpezas e renovações, pensar o início de novos projetos e trabalhos
  • A partir desta noite (até a cheia) se considera um período favorável para crescimento, expansão, fortalecimento, etc.
  • Organizar o local do rito, chama e oferendas


1. Ablução

O oficiante canta sobre a água pura:
*katos ud-es-kyos ando-φenās φolya kartā-ye

Asperge água sobre si (pode ser em três pontos formando um trisquele: testa, mão direita e esquerda) enquanto diz:
*katos noybōi mī buyū

Asperge os demais participantes (em ordem de idade, do mais velho ao mais novo) dizendo:
*katos noybōi tū buesi

E sobre a área do altar doméstico
*noybos nemetos-kwe esti

2. Início: (re-)acendimento do *trebā-aydu

Toca-se o sinal do início (3x)

Em posição de oração, em direção ao nascente, o responsável pelo acendimento do *trebā-aydu diz:
*Wāri-deywa, φlenstus trebā-aydows, kom-ansed esi

Acende-se o fogo (caso este não permaneça constantemente aceso, se for o caso de permanecer não é necessário esta parte pois) e se continua

*gwed-y-a-s-om-mī kom wesūd aydūd
e-kwe kom-ber-a-s-esi tū sām ad-bertām


Oferta-se no *trebā-aydu

O oficiante diz (e pode, ao dizê-lo, fazer os gestos específicos ou mesmo segurar o fogo em mãos 1º erguendo-o, 2º abaixando-o, 3º girando levemente e 4º centrando-o diante do altar para depois colocá-lo sobre; isto durante os quatro primeiros versos, depois assume-se a posição de oração):

“O céu por cima nos cobre
A terra sob nós se estende
As águas circundam-nos
O fogo no meio se acende.
Que os Deuses abençoem-nos,
Que nosso louvor seja vero,
Que nossas ações sejam justas
E nosso valor sincero.
Força, honra e glória aos Deuses Imortais”

Depois, declara o propósito do rito e saúda os deuses e o *trebā-aydu

3. Oferendas

Aqui são realizados as invocações e oferendas aos Poderes da ocasião.

*Dawnā à Lua Nova

*waydā* tei, ā gelāka** ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā φare-layā/to-wissu weskweroyo;
waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā windā weilyos.

waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā φare-layā/to-wissu reido-gloystōm/sterānom;
waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā rūnā***/(ad-)karā monoyo/mowoyo klīwoyo.

Waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā φare-layā/to-wissu snowdōm/ni(g)lānom;
Waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā windā nemesos!


Oferenda às Madres

O oficiante recita uma prece (improvisada/escrita) de agradecimento e rogando por nutrição/sustância, saúde e força para a família durante o mês que se inicia, realizando a oferta (no recipiente adequado/solo) em seguida (toca-se um sinal 1x), todos saúdam as divindades.

Oferenda a Návia

O oficiante recita uma prece (improvisada/escrita) de agradecimento e rogando por proteção familiar, fortaleza e energia para a família durante o mês que se inicia, realizando a oferta (no recipiente adequado/solo/água corrente) em seguida (toca-se um sinal 1x), todos saúdam a divindade.

Oferenda aos Gêmeos Divinos

O oficiante recita uma prece (improvisada/escrita) de agradecimento e rogando por proteção nos trajetos/viagens, na(s) propriedade(s) familiar(es) e coragem para a família durante o mês que se inicia, realizando a oferta (que podem ser depositadas nas duas portas/entradas/saídas principais da casa) em seguida (toca-se um sinal 1x), todos saúdam as divindades.

4. Encerramento

O oficiante agradece aos Poderes presentes e declara o encerramento do rito doméstico, por fim agradece à Deusa que preside o *trebā-aydu e profere:
*ad-bertām φro-dā(-yta)s, φeri dedmatem, samalīd senoi de-dā-anti genoi-kwe dā-s-ionti

Toca-se o sinal de encerramento (3x)

Finalizações

  • As oferendas que ainda não foram depositadas são dispostas em seus lugares adequados
  • A água é libada no solo
  • As insígnias, vestimentas e materiais são realocados e os participantes dispersos.


Léxico do Proto-Céltico para o Celtibérico e o Galaico

*lītus trebākos nowiyo-ēskyōi
Galaico: lītus trebaecos novioēsciō
Celtibérico: lītus trebākos nouizoeiskiūi

Termos gerais:

*ad-bertā (Galaico: abbertā; Celtibérico: abertā) “oferta, oferenda”
*bratto- ou *brattino- (Galaico: brattos, brattinos; Celtibérico: bratos, bratinos) “manto”
*dawnā (Galaico: daunā; Celtibérico: daunā) “poema de oferta, hino”
*deywā (Galaico: dēvā; Celtibérico: teiuā) “deusa”
*deywoi (Galaico: dēvi; Celtibérico: teiuoi) “deuses”
*deywos (Galaico: dēvos; Celtibérico: teiuos) “deus”
*druχto- (Galaico: durtos; Celtibérico: derutos) “recipiente de madeira (de carvalho)”
*klokko- (Galaico: cloccos; Celtibérico: klokos) “sino”
*korno- (Galaico: carnos; Celtibérico: kornos) “corno, chifre” no caso “corneta”
*lestro- (Galaico: lestrom; Celtibérico: lestrom) “vasilhame, vasilha”
*linnā (Galaico: linnā; Celtibérico: linnā) “véu, xale”
*matīr wenyās → *wenyāmatīr (Galaico: matīr veniās; Celtibérico: matīr ueniās) “mãe da família”
*ruk- (Galaico: rus; Celtibérico: ruz) “túnica”
*sago- (Galaico: sagom; Celtibérico: sagom) “capa, manto com capuz”
*sua biyetod (Galaico: sua biieto; Celtibérico: sua biietuz) “assim seja”
*tīg- (Galaico: tīs; Celtibérico: tīz) “capuz, capa”
*trebā-aydu (Galaico: trebāedu; Celtibérico: trebāidu) “fogo sagrado da casa”
*trebā(ta)kos (Galaico: trebaecos; Celtibérico: trebātakos) “caseiro, pai de família”
*wet-alo- (Galaico: vetalos; Celtibérico: uetalos) “insígnia, chifre-de-beber valioso ou para uso ritual”
*wiros tegesos (Galaico: vírus tegesos; Celtibérico: uiros tegesos) “homem da casa, pai de família”
*φatīr wenyās → *wenyātīr (Galaico: atīr veniās; Celtibérico: atīr ueniās) “pai de família”
*φatnā (Galaico: ānā; Celtibérico: ānā) “copo, chifre-de-beber, pátera”

Frases litúrgicas:

*katos ud-es-kyos ando-φenās φolya kartā-ye
“pura água da fonte tudo purifica”
Galaico: cados udescios/catā aguā andonās olla cartāie
Celtibérico: katā akuā andonās olia kartāie

*katos noybōi mī buyū
“puro para o sagrado eu esteja”
Galaico: cados noebō mī buiū
Celtibérico: katos noibūi mī buiū

*katos noybōi tū buesi
“puro para o sagrado tu estejas”
Galaico: cados noebō tū buesi
Celtibérico: katos noibūi tū buesi

*noybos nemetos-kwe esti
“santo e sagrado está”
Galaico: noebos nemidosque esti
Celtibérico: noibos nemetoskue esti

*Wāri-deiwa, φlenstus trebā-aydows, kom-ansed esi
“Ó Deusa-da-Aurora, luz do fogo sagrado da casa, conosco estás”
Galaico: Vāridēva, lestus trebāedōs, comanse esi
Celtibérico: Uāriteiua, lestus trebāidōs, komansez esi

*gwed-y-a-s-om-mī kom wesūd aydūd
e-kwe kom-ber-a-s-esi tū sām ad-bertām

“que eu ore com um excelente fogo sagrado
e que tu recebas essa oferenda”
Galaico: guediasommī com vesū aedū
igo* comberases tū sām abbertām
Celtibérico: guediasommī kom uesuez aiduez
ekue komberases tū sām abertām

*dawnā construída a partir da oração escocesa presente em CARMINA GADELICA III, 303.

*waydā* tei, ā gelāka** ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā φare-layā/to-wissu weskweroyo;
waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā windā weilyos.
waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā φare-layā/to-wissu reido-gloystōm/sterānom;
waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā rūnā***/(ad-)karā monoyo/mowoyo klīwoyo.
Waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā φare-layā/to-wissu snowdōm/ni(g)lānom;
Waydā tei, ā gelāka ūra/nowyā,
(φro-)berχtā/ad-liwo-anā windā nemesos!


Em galaico:
Vaedā tē, ā gelaeca noviā,
Andobertā arelaiā vesqueri;
Vaedā tē, ā gelaeca noviā,
Andobertā vindā vēlios.
Vaedā tē, ā gelaeca noviā,
Andobertā arelaiā steraōm;
Vaedā tē, ā gelaeca noviā,
Andobertā carā moi clīvi.
Vaedā tē, ā gelaeca noviā,
Andobertā arelaiā nilaōm;
Vaedā tē, ā gelaeca noviā,
Andobertā vindā nemesos!

Em Celtibérico:
Slāniā tei, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā arelaiā ueskuero;
Slāniā tei, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā uindā ueilios.
Slāniā tei, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā arelaiā reidogloistūm/steraūm;
Slāniā tei, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā karā mouo klīuo.
Slāniā tei, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā arelaiā snoudūm/nilaūm;
Slāniā tei, ā gelāka nouizā,
Robertā/Alliuanā uindā nemesos!

*ad-bertām φro-dā(-yta)s, φeri dedmatem, samalīd senoi de-dā-anti genoi-kwe dā-s-ionti
“a oferta foi dada, conforme o costume sagrado, como os antigos deram e como os filhos darão”
Galaico: abbertām ro·dās, eri dedmadem, samalīd seni dedānti igo**** geni dāsionti
Celtibérico: abertām ro·dās, eri dedimatem, samalīz senoi dedānti genoikue dāsionti

---
*waydā é "clamor, alarido, grito", cuja base é a interjeição antiga *way e é a provável fonte do IrA 'fáilte' (*way-l-ut-yā) "saudação, ave, salve, alegria".
Outra opção, baseada no uso antigo da expressão em IrA 'slán', seria *slānyā, lit. “saúde, sanidade”.
**gelāka "radiante", para "lua" temos em Protocéltico *lugrā e *ēskyo-
***rūnā "segredo, encanto secreto", a ideia aproximada seria de *kom-rūno- "confidente"
****igo' (atestado na inscrição de Viseu “Deibobor IGO Deibābor...”, provavelmente para uma conjunção baseada em *e-kwe > 'eque' > 'ique' > 'iquo' > 'iguo' > 'igo') ou a conjunção lusitana 'indi'
M· Diniz Nemetios
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