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Belotenes, Belotenez, Belltaine

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Mensagem  M· Diniz Nemetios Dom Nov 06, 2011 3:32 pm

Saudações.

Este post aparece atrasado. Primeiramente, não tive tempo de reorganizar as informações para postar algo decente no espaço do fórum destinado as festividades comunitárias. Segundo, este post é mais uma reflexão sobre uma celebração doméstica de tal festividade. Antes de mais nada, pelo menos no mundo celta insular, temos evidências suficientes para afirmarmos que tal festividade era das mais importantes e coletivas (e por isto mesmo, suas tradições, requerem espaço, estrutura e materiais abundantes). O aspecto doméstico de tal festividade é quase nada aludido, muito provavelmente por que não fora de fato "importante" (ao contrário do Samonios). Daí que uma celebração doméstica hoje, só faz sentido pela inviabilidade de uma celebração comunitária - que pode acontecer por vários fatores: falta de pessoas próximas, imprevistos, etc. - e no meu ver, deve ser vista como uma opção paliativa, apenas enquanto não se organiza algo de dimensões maiores. Apontarei algumas pequenas considerações e chamo a compartilharem as vossas.

Tradições gerais dos Celtas Insulares (Gaélicos e Britônicos) no todo (dos relatos da Alta Idade Média até os costumes folclóricos):



  • Acendimento de fogueiras (feitas com sorveira, preferencialmente), necessariamente por FRICÇÃO, apagamento (como no Samonios) do fogo da casa, limpeza da lareira, fogão, etc., reacendimento como o fogo novo.
  • As oferendas devem ser queimadas.
  • Acende-se 2 fogos para purificação dos animais domésticos (que devem ser conduzidos entre os 2), ou ainda se considera que o gado deva ser, nesta época, consagrado a Bel (vd. Tochmarch Emire). Na Ilha de Mann se considera que a fumaça destas fogueiras são benéficas não só para a saúde do gado, mas para das plantações e mesmo pessoas.
  • Confecção de um bolo (bannock) cortado em fatias, aquele q tirar a fatia escurecida tem de pular 3x sobre a fogueira para eliminar a má sorte.
  • Comidas e bebidas tradicionais leite com mel, cerveja, coalhada, queijo, bolos, etc.
  • É feita adivinhação pelo fogo, assim como adivinhações relativas ao casamento, fertilidade e amor em geral.
  • Cumprimenta-se o Sol pelos três dias no amanhecer; ou como em Edimburgo na Escócia, sobe-se um monte rochoso (neste caso, um conhecido como Arthur's Seat, o "assento de Artur") para saudar o sol (e acredita-se que isto trás saúde e vigor); considera-se, em alguns lugares da Irlanda, que a aurora do Beltaine abre as portas para o Outromundo.
  • São feitas brincadeiras envolvendo fogo e ainda competições do tipo batalhas entre dois grupos e esportes do tipo Hurling.
  • Visita-se fontes santas (em Orkneys e na Ilha de Man, especialmente), caminha-se em torno delas - em sentido horário 3x, pronunciando uma prece - antes de apanhar água ou banhar-se (nu). Moedas podem ser ofertadas nos poços ou fontes.
  • Escolha da "Rainha de Maio", procissões de jovens com guirlandas e arbustos em sua honra, arrecadando presentes; feitura do buquê de Maio (geralmente com flores amarelas); em Gales realizava-se festivais de teatro nesta data.
  • Paga-se aluguéis (anuais ou bianuais), arrenda-se terras, faz-se comércio da criação e produção em geral (o que inclui, em alguns casos, casamentos).
  • Em alguns locais, era costume plantar uma árvore nesta data.
  • Realizados ritos, rezas e encantamentos contra mal-olhado, inveja, bruxarias e más intenções humanas, assim como toda precaução contra os males adivinhos do Outromundo, dos mortos e/ou do incômodo das Entidades Locais.
  • As mulheres devem juntar orvalho da manhã para banhar-se (ou lavar o rosto) - tal orvalho traz beleza, saúde e fertilidade.
  • Mastros (em alguns locais, como e Gales, de bétula) decorados com flores e discos de prata, Danças (dança do pau-de-fita, há quem aqui aponte herança germânica; ou mais tradicionalmente, danças circulares em torno de uma árvore, poço ou fogueira), músicas e comemorações.
  • Associada possivelmente ao rei mítico Belyn/Leyn em Gales, e/ou a Beli Mawr (filho de Manogran/Mynogan, considerado ancestral mítico dos britanos, pai de Llud, ou seja, o britânico Nōdons) e aos nomes ligados a Belinos: Cynfelyn, Cadfelyn e Llewelyn).
  • Aconteceram nesta época, alguns eventos mágicos ou míticos relevantes como a morte de Ailill por Cenall Cernach, um possível sacrifício marítimo a Manannan; ou ainda a historieta de Teyrnon Twrf Liant no conto de Pwyll, o grito de opressão no Lludd e Llefelys e ainda a batalha entre Gwyn ap Nudd e Gwythyr no Culhwch e Olwen.


Evidências dos Celtas Continentais em geral.


  • talvez tal festividade esteja ligada ao deus gaulês Belenos/Belinos, associado com Apollo, geralmente apontado como um deus ligado a profecias/oráculos, cura e talvez ao pastoreio, e ao Hyoscyamus niger, chamado em espanhol de Beleño (do Protocéltico *belenyo-), planta alucinógena. Há uma deusa gaulesa de nome Belisamā, equacionada com a romana Minerua, e relacionada com a gaélica Brigite, que talvez ainda possa ser associada de alguma forma.
  • Supõe-se que construtos sacrificiais do tipo "Homem de Vime" descrito por César, ou colossos, eram construídos nesta época.
  • Na Gália, se registrou dedicações aos Dióscuros Célticos no mês de maio, e talvez haja alguma relação com a celebração de pares divinos (em especial os ligados a cura, como Grannos e Sironā).
  • Não há evidências inequívocas da celebração de tal data em todas as terras celtas, apesar do alto grau de probabilidade. Alguns estudiosos advogam que estruturas megalíticas e templos na Celtiberia e antiga Callaecia Lucensis atestam a observância desta data (junto com dos Equinócios e Solstícios) - neste caso atestada, por exemplo, no calendário da necrópoles de La Osera, no dia 5 de maio, marcando a saída das Plêiades ao amanhece; ou no petróglifo da Ferradura (Galiza)

.

Evidências do Folclore Português e Espanhol.


  • celebrava-se o dia de Júpiter, durante todo o mês de Maio (vd. Sermão de St. Eloy, séc. VIIe.c.).
  • Há a tradição dos Maios (bonecos de pano ou palha em tamanho real, representando cenas cotidianas de modo satírico ou bem humorado) que são feitos na véspera e postos no primeiro de maio, sendo retirados ao anoitecer. Enfeitados com flores de giestas e roupas coloridas. Há locais onde isto ocorre pelos três primeiros dias do mês, além de que alguns "atacam" o boneco, jogando nele figos secos ou aguardente (quem assim o faz, sai revigorado, "limpo"). Neste caso, o "maio" é considerado uma representação algo maligna que precisa ser purgada de certa forma, e a quem não se deve deixar entrar em casa.
  • Em alguns locais é tradicional a ida aos campos para colher flores silvestres e plantas medicinais na manhã do primeiro de maio.
  • Põe-se flores nas portas e janelas desde a véspera, enfeita-se poços e carroças de burro, cancelas, currais, etc. em alguns locais uma jovem vestida de branco saía cedo a bater nas portas dos vizinhos dizendo-lhes que saíssem de casa, formando uma procissão a atacar os maios; noutros locais são eleitos os "maios moços" - rapazes, ou mesmo animais garbosos, enfeitados com flores e arbustos, ao redor de quem se canta, versa improvisadamente e dança. Noutros caos, especialmente na Espanha, o "maio" é o nome dado ao mastro de maio que é arrastado, erguido e enfeitado com flores (como ocorre em outras áreas de Portugal, onde o mastro é arrastado ao cume de um monte, enfeitado e depois erguido) - o levantamento do mastro é relacionado a revitalização e virilidade masculina (e o mastro deve ser enfeitado por mulheres ou crianças). Noutros locais (na Espanha), fazem-se cruzes de arbustos enfeitados com flores.
  • Catolicismo popular na Galícia, realiza na última semana de maio uma festividade em honra de uma padroeira dos marinheiros. Há ainda a Rapa das Bestas, festividade de corte (um tanto quanto, digamos, "rústico") de crinas e tosquia de animais de criação que ocorre noutros meses também, mas que se iniciam no mês de Maio. Em certo locais na Espanha realizam-se Feira de Cavalos.
  • Em alguns locais, é organizado um banquete comunitário e a moça de maio sai a convidar um rapaz (que passa a ser o "maio") para o manjar; noutros ainda são os moços que reúnem-se e circundam as jovens dançando.


O que podemos fazer em termos domésticos, pois?

Bem, primeiramente no que tange aos costumes folclóricos da península e mesmo das ilhas britânicas é complicado discernir o que são heranças "genuínas" de heranças extra-célticas. Daí que sugiro que adote-se um critério de comparação geral com os costumes célticos insulares e recorrência Indoeuropeia. Segundo ponto, é delimitar as práticas para o aspecto doméstico/pessoal. Disto, segue o grosso, penso, do seguinte:


  • O foco geral das práticas domésticas é assegurar a vitalidade, fertilidade, purificar e propiciar cura, livrar-se de incômodos mágicos vindo de outros, do Outromundo ou da estação, seja canalizando-os através de um instrumento (um boneco de palha) que será purgado ou com rituais propiciatórios. Além de reconhecer e honrar os poderes benéficos da ocasião, a Beleza e juventude. Podemos ainda supor que haja certo intercurso de forças (masculinas com femininas, como no caso do preparo e levantamento de um mastro, ou das dinâmicas envolvendo o jovem "maio" e jovens mulheres, entre outras; representando certa união de cariz sexual) que devam ser configuradas ou representadas.
  • Isto pode ser feito por meio de: 1) limpeza/construto floral/herbáceo, 2) peregrinação e banho a fontes (ou mesmo mar) ou ainda 3) pelo poder do fogo e das fumaças sagradas. Caso se opte por representar tal intercurso das forças, se pode recorrer a diversas opções simbólicas.


Daí que um rito doméstico constituiria na observância dos costumes tradicionais que envolvesse isto, adaptando-os quando necessário. Neste caso, proponho o seguinte:

    I. preparação de arranjos de flores (em formas de cruzes celtas ou suásticas) ou guirlandas, para serem colocadas nas portas de casa ou janelas durante a véspera da festividade. Na confecção destas, poderia-se cantar canções relacionadas com o "espírito" da ocasião, etc.II. enfeitar a casa e o ambiente com flores da estação, perfumes e preparar oferendas; assim como, caso se deseje, o "instrumento" purgador (boneco de palha, pano).III. realizar as saudações matinais ao sol (na aurora - durante os três dias ou apenas no primeiro, cabe a cada um), banhar-se com água pura ou banho purificatório, seguinte os costumes (arrodear a água 3x em sentido horário, etc.); preparar manjares para a ocasião.IV. expor ou mesmo terminar de enfeitar o "instrumento" purgador; realizar o acendimento das fogueiras (pela manhã, ou ao meio-dia, ou ainda mesmo ao anoitecer, cada um veja) rito de "purgação": homenagem aos deuses da ocasião, sacrifícios primiciais (com incensos, ervas próprias, bolos e preparados) e o sacrifícios principal do "instrumento" purgador em uma fogueira própria. Para representar os elementos de fertilização e revigoração pode-se recorrer a algo que aluda a preparação, enfeite e posterior queima/derrubada do mastro (ao anoitecer) - seja fazendo-o em pequena escala dentro de casa, ou realizando uma meditação/visualização que envolve estes elementos, realizando uma dança, ou de outra forma (pode ser simulando o ato gerador de vida, com um bastão/espada e guirlanda, etc.).V. cear em família os manjares em espírito alegre e festivo em honra aos deuses da ocasião, com música, bebida.VI. após o fim dos dias festivos (ou do dia festivo), recolher os arranjos e dispô-los em local próprio (ou queimá-los em oferenda).


Algo mais pode ser elaborado ou mesmo podemos melhorar o que propus acima, mas deixarei para discutirmos ao longo do tópico. Participai, pois!
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