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Música litúrgica - geral

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Mensagem  M· Diniz Nemetios Sex Jul 22, 2011 2:46 pm

Considerações metodológicas gerais.
Seria possível reconstruir algo da música ibérica das tribos celtas pré-cristãs? É difícil pensar que sim. O que segue abaixo são algumas anotações gerais de uma tentativa que não busca ser uma reconstrução 100% fidedigna, antes uma tentativa de construção de diretrizes o mais plausíveis possível, de modo que se "não era assim", pelo menos "poderia ter sido assim". Esta pesquisa (como outras) está em curso e se a compartilho é para que a melhoremos.

Mas a partir de quê se poderia tentar algo tão ousado? Pensei no seguinte roteiro. i) pesquisar nas fontes mais próximas possíveis da época foco indícios quaisquer, preferindo sempre as fontes mais antigas. ii) consultar fontes do alto medievo e da tradição galego-portuguesa para preenchimento de lacunas não preenchíveis pelo recurso ao mundo Indo-Europeu antigo e iii) o recurso a inspiração pessoal. Neste sentido, privilegiamos mais as construções hipotéticas IE às atestações galego-portuguesas, pelo fato de nestas, não dispormos de elementos suficientes (por hora, espero que ao longo da pesquisa isto seja revisto) para distinguirmos o que é um substratum mais antigo e o que é influência romana, cristã ou mesmo árabe. Neste caso, como o nosso foco é a música "litúrgica" o trabalho se torna ainda mais especulativo, pois o que há sobre na antiguidade, que já é raro, geralmente comentado é sobre música nos contextos bélicos. Daí que é óbvio o grau de especulação das notas abaixo.

Música
a) Instrumentos
-atestados
  • flautas (Estrab. Geog. III: 3, vii.)
  • trombetas, tubas (idem.) - atestados na Celtibéria também.
  • liras (nas cerâmicas celtibéricas, podemos conceber algo baseados na gaulesa 'lira de Paule' - encontrada em Côtes d'Armor - corpo e caixa de ressonância em madeira, algumas peças de ossos [afinadores, etc.], cordas de tripas, 7, 5 mais cordas - se bem que outras imagens em moedas mostram com 4 ou 3).
  • armas e escudos como instrumentos (assim cantavam os exércitos Callaecos, segundo Sil. Ital. Pun. III: 346)
  • palmas das mãos como instrumentos (em danças e cantos em coro vd.Val. Mart. Lib. Spert. I: 41, xii e também Ammian. Marc. XIV: 6, xix)


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Pinturas em vaso celtibéricos.

-prováveis
  • carnux e cornos de sopro
  • crotales e sinos de mão
  • tímpanos, etc.


-contemporâneos
  • tambores tipo bodhrán
  • outros instrumentos de percussão tradicionais na Ibéria
  • albogues
  • gaita de foles (galega, transmontana...)
  • instrumentos elétricos


b) Métrica
-prováveis (falta pesquisar em Marcial, Quintiliano e mesmo Lucano – creio que a métrica das canções galego-portuguesas também seja guia em algo)
-reconstrução (confesso que prefiro recorrer aos modelos arcaicos IE vd. O magnífico texto WEST, M. L. Indo-European Poetry and Myth. Oxford/New York: Oxford University Press, 2007.)

c) Língua
-reconstruídas (obviamente que também preferirei as reconstruídas, mesmo como todo o problema do alto grau de especulação acerca destas)
-português

d) Melodias
-reconstruídas (as reconstruções das músicas gregas e latinas são um ótimo guia geral do que tal sonoridade se pareceria, e neste caso prefiro tais escalas presentes nestas)
-galego-portuguesas (as músicas eminentemente vocais, como Ondas do Mar de Vigo, talvez sejam uma boa indicativa de um substratum antigo – mas não sei, é necessário mais pesquisa)

e) Estilos
  • -música litúrgica (hinos, invocações e louvores aos deuses cantados durante as cerimônias – Ammian. Marc. XV: 9, viii. Reporta que os Godos invocavam seus deuses acompanhados de uma lira, é muito provável que os Gauleses, e os celtas em geral também procedessem assim)
    -música para fins mágicos (aqui enquadramos tanto os cantos de guerra, realizados antes da batalha ou mesmo durante – barditus – vd. Veg. Renat. III: 18, quanto os utilizados noutros contextos mágicos exemplificados pela literatura medieval céltica insular)
  • -música heroica (cantos que registram feitos militares – Sallus. Cris. Hist. Fragm. II: 92; e Sil. Ita. Pun. III: 346 – além dos cantos realizados em honra de Viriato, por exemplo ou ainda os cantados em júbilo após uma vitória ou evento festivo, como casamentos ou no triunvirato de Lepidus e Plancus na Hispania em 43 a.e.c., onde os soldados improvisavam versos – seguidos de um refrão, é o que pensamos vd. Vell. Peter. Hist. Rom. II: 67, ii)
  • -música para demonstração de habilidades (música realizada em demonstrações públicas, competições poéticas ou eventos festivos através de improviso vd. Tacit. Ann. IV: 47, ii acerca dos Sicambri, mas há atestação disto entre os gauleses também; e é bem provável que na Ibéria também, talvez a fonte remota dos repentistas aqui do nordeste)


E para hoje?
-Nas músicas litúrgicas propriamente ditas, sugiro:
*predomínio de vocal (solo, trio ou em coro)
*acompanhamento por flauta e lira
*acompanhamento por crotales e tambores
*melodias solenes, austeras e, dependendo da ocasião, alegres e dançantes

-Música religiosa em geral, é aproveitável os diversos estilos contemporâneos (folk ibérico, folk metal, etc.). No tópico sobre música, podemos compartilhar sons e vídeos de grupos que podem servir de referência ou que acreditamos ser demonstrativos.

Sobre a música gaulesa em geral, pode-se ver este site (de Albin Paulus) que possui muuuuuuita coisa interessante.

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