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Divinação pelas cascas de avelã

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Mensagem  M· Diniz Nemetios Dom Jun 10, 2018 11:56 am

Antes de mais nada, deixem-me deixar bem claro: não é um procedimento divinatório tradicional.

Lá para a época em que este fórum foi criado e estava a pleno vapor, sentia eu a necessidade de uma ferramenta oracular portátil e versátil mais centrada no iberoceltismo, em especial, na influência dos poderes divinos. Utilizar tarô ou mesmo os métodos de leitura do ogham irlandês mais populares no neopaganismo não me parecia o mais adequado. Por outro lado, “inventar” do nada, não me parecia lá muito “legítimo”.

Bem, no entanto, sabemos que o procedimento tradicional de tais mecanismos divinatórios portáteis, em grande parte, dizia respeito a confecção do “jogo” no tempo adequado e com os materiais adequados. Temos o uso mítico do ogham na literatura irlandesa (escrita na casca de uma bétula, para citar um caso bem conhecido) e temos um antigo relato da confecção de uma espécie de “jogo” destes por parte de tribos na fronteira galo-germânica por parte de Tácito (na Germania) que descreve detalhes ortopráticos importantes (colher madeira de uma árvore que dê “castanhas” ou “nozes”, por exemplo) que hoje se entende serem válidos tanto para as runas germânicas quanto para procedimentos semelhantes do lado dos gauleses (sem contar que, na zona fronteiriça entre gauleses e germânicos, havia um forte intercâmbio cultural que torna difícil para os estudiosos hoje delimitar com clareza o que era de um ou de outro), além da interpretação da expressão “PRINNI LOVDIN” do calendário de Coligny ser visto também como marcação para se “tirar a sorte” com tais métodos de jogos feitos com madeiras, galhos, etc.

Na época, havia comprado um saco de 1kg de avelãs, e não me recordo exatamente como, mas me veio intuitivamente utilizar as cascas destas como “base” para escrever signos. Me recordei da associação irlandesa entre avelãs e obtenção de conhecimento, a fonte de Nechtan, etc. E aí fez sentido. No entanto, não estava bem seguro sobre a coisa toda e muito menos se funcionaria, pois tudo me parecia demasiado intuitivo e do tipo “UPG”. Numa tarde, em meditação e escrevendo sobre as divindades da península ibérica, rapidamente tracei uma lista de termos em Proto-Céltico e a inscrita foi realizada nas cascas, e se seguiu as oferendas e preces para a consulta. As consultas iniciais visavam “clarear” ou apontar algo sobre divindades cujo único conhecimento que tínhamos era o teônimo e as especulações etimológicas sobre este.

E o método de leitura também fora intuitivamente “descoberto” no primeiro uso. Não sei se pelo clima de concentração (tanto que as lembranças me são “nubladas”), mas tive a impressão forte de que “funcionava”. De lá para cá, o sistema fora utilizado para augúrios durante os ritos (especialmente quando outros métodos, como voo das aves, fogo ou destruição da oferenda, etc. eram inviáveis ou bem mais difíceis) e esporadicamente para questões específicas em momentos específicos, mas com bem menos frequência.

E aqui talvez caiba um rápido parêntese. Particularmente, não sou muito de consultar oráculos sobre qualquer coisa. Creio que somente situações importantes requeiram e mesmo nestas, tenho a impressão de que os Deuses podem nos enviar sinais, e aí é preciso estar “desperto”, digamos, que diminuem ainda mais a necessidade de consultar oráculos. Mas isto é comigo. Sei da importância geral que tais instrumentos tinham e têm. Além de que, qualquer sistema divinatório requer estudo sério (do instrumento e de maneiras de concentrar-se ou acessar a *awets, a Inspiração), além de piedade religiosa.

O fato é que tal “sistema” foi usado por um tempo, diria que com algum sucesso (não me perguntem como), de forma “privada”, falei sobre o mesmo para muita pouca gente e mais o pessoal do nosso castro que via a utilização e acompanhava as leituras. Também nunca considerei que houvesse descoberto a roda ou coisa do gênero, muito pelo contrário, sempre o tive em conta de modo muito humilde e me surpreendo até hoje que funcione. Tanto que só venho expor agora a título de curiosidade e conhecimento, já que, pelos anos de uso mesmo, ano passado umas cascas de avelã quebraram e desde então estou a considerar outro sistema portátil deste tipo e não sei se farei outro “jogo” de cascas de avelã.

Terminologia.


Apesar de anos usando nunca pensei num nome. Avelã, em PrC é *koslos. Para ‘casca’ temos *kennos. Se pensarmos num termo composto “casca de avelã”, temos *koslo-kennos e “augúrio da casca de avelã”, *koslo-kennī kaylom.

Os signos.

Ao invés de letras (seja em qual alfabeto for) utilizei desenhos abstratos. Vamos aos termos que estão cá (não me recordo de ter perdido nenhum).

*aydu - “Fogo Sagrado”; desenho de uma labareda (voltada para cima)
*dubrom - “Água do Outromundo”; desenho de ondas espiraladas embaixo de uma linha reta
*ēskyom - “Lua”; desenho de um círculo
*katus - “Batalha”; desenho de uma espada e um escudo
*kerdā - “Arte”; desenho de um quadrado com um “C” dentro e 4 espirais nos cantos
*marwos - “Morto”; desenho de uma linha reta e uma silhueta humana embaixo
*matīr - “Mãe”; desenho de uma silhueta humana com véu e enrolada, como que segurando um bebê
*mīlom - “Animal”; desenho de uma folha e uma silhueta de um canino
*nemos - “Céu”; semicírculo aberto para baixo
*nityos - “Local”; um “N” → o termo foi pego da lista de PrC da Universidade de Gales, não está presente no dicionário de Matasović e hoje não sei se utilizaria este termo.
*sentus - “Senda”; dois sapatos sobre uma linha reta
*sowonos - “Sol”; círculo com suástica galaica e linhas simulando “raios de sol”
*soytom - “Magia”; espiral estilizada
*sterā - “Estrela”; uma estrela
*sterkā - “Amor”; duas silhuetas humanas, uma de frente para a outra, separadas por uma espiral
*toranos - “Trovão”; semicírculo (aberto para baixo) com um raio sobre uma linha reta
*trebā - “Casa”; frente de uma cabana simples
*wāstom - “Vazio”; nenhum desenho
*widus - “Árvore”; três árvores coníferas

Leitura.


Após as devidas preces para que as divindades revelem o sinal através deste instrumento específico, o áugure os segura com as duas mãos e os deixa cair sobre uma superfície plana. As cascas que serão lidas, ou seja as válidas, são as que caem “cobertas”, ou seja, com o signo velado (para baixo). As que caem com o signo para cima, são recolhidas em sentido horário, das bordas para o centro.  Já o sentido da leitura é do centro para as bordas. Quanto mais ao centro, mais importante ou relevante para a questão.

Como os signos são demasiado simples, a elaboração do vaticínio em si, por algumas vezes, preservou certa “vagueza” que permitia uma interpretação mais ampla por parte dos ouvintes. Os poderes ou forças que os signos representam, na maior parte das leituras que fiz, foram interpretadas como influências de deuses específicos ou como um chamado de atenção para seus domínios. No caso específico dos augúrios sobre a aceitação de oferendas, o mesmo padrão é observado. Por exemplo, se numa dada ocasião ofertamos ao Sol e perguntamos se nossas oferendas foram aceitas, e se no jogo, o signo do sol aparece no centro, consideramos que as oferendas foram bem aceitas. Se aparece nas margens, que fora aceita, mas que poderia ser melhor de nossa parte. Se não aparece, que não foram aceitas. Simples assim.

Finalizando.

Como deve ter ficado claro, é um método "experimental", no mínimo. E como já falei, eu mesmo não sei se buscarei outro ou se confeccionarei um novo "jogo", seja exatamente como este ou ampliado. Enfim. Coloco cá a título de curiosidade e informação. Espero que seja útil, ao menos como um contra-ponto.

Eis uma imagem do "jogo" atualmente (notem que tem uma casca quebrada):
Divinação pelas cascas de avelã Imagem10

M· Diniz Nemetios
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