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Rito Doméstico para as Luas Negras (originário da lista Recons Iberoceltica)

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Mensagem  Manuel Araújo Ter Ago 23, 2011 9:19 am

Da autoria de [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
(Terça-Feira, 20 de Julho de 2011)

PARA AS NEGRAS (duboiskionotiaka / duboescionoctiaecā – [oferenda] noturna de lua negra)

-No anoitecer, imediatamente após o pôr do sol em 14 da cheia de cada mês lunar.

-Deve-se escolher uma das línguas.

-Materiais: fogo da casa (vela, chama do altar, etc.), água pura (mineral, da chuva, etc.), um pouco de azeite (oferenda), mel/melaço ou fumo e bebida (oferenda principal, pode ser também a janta ou os 2) e recipientes (se assim desejado, use um véu/manto sobre a cabeça, deixando parte do topo frontal da cabeça descoberta).

-Práticas caseiras: faxina, poda/corte (visando o definhamento), limpeza, purgação, etc.

-A bebida não é necessariamente alcoólica, antes pode ser algo que se sabe que os ancestrais gostavam, como a café, suco, etc.


Limpeza.
Reserve uma pequena parte da água pura. O restante coloque numa bacia, diga: noibaguas, loukatas aguas, me glande ekue me sumelmanzem gabie / nemidaguās, louciās aguās, glande me indi vrege me com mentovesuÄ" "águas santas, ó água luzente, purifica-me e deixa-me com boa mente" lave as mãos e o rosto. Despeje a água restante da bacia no chão fora do teto da casa.

Fogo.
Acenda o fogo sagrado concentradamente enquanto diz, ou caso o fogo já esteva aceso diga: Maiduna Aidutrebiaka con'suaiduez guedian ekue abertam roberses / Munis Caria CantibidÅ«, guedian com aedovesuÄ" indi roberses tÅ« abbertām "ó *Deusa do Fogo Doméstico (confira o site Senakokredima) + *epíteto, que eu ore com boa chama e que aceites a oferenda", liba-se alguns pingos de azeite na chama.

Sacrifício.
Voltando-se para o altar (ou para um local específico para isto na casa), em posição de oração, recita-se:

Nitius anamuna, trebias anatia,
Nos r·anekitetez ekue souelizatez
Gortiga ansom ekue teiuum sunertiz,
Robersete stam abertam.


Nitius anamuna, trebās anatia,
R·anecteteio nos indi suvelissate
Gortiga ansom indi dÄ"vōm sunartid,
Sam abbertām robersete.


"Ó entidades locais, espíritos da casa,
Que haveis nos protegido e respeitado,
Pela nossa aliança e pelo poder dos deuses,
aceitais esta oferenda"

Deposita-se num local específico (preferencialmente, previamente destinado para isto) o mel/melaço/fumo.

Voltando-se para o oeste, em posição de oração, recita-se:

Senisterus, uenias senoi
To'mei kei ankete,
Au dubuz kamanuz Eskio,
kom'mez sanotei ibete.


Senistres, senacoi veniās,
Ancete do·mei cÄ,
Au dubō cammanō Loucni,
Ibete commÄ sanocti.


"Ó ancestrais, antigos da família,
Vinde a mim aqui,
Do caminho escuro da lua,
Bebei* comigo esta noite."

*caso seja "comei" (a janta): itete / itete ou "comei e bebei" (janta + bebida): itete ekue ibete / itete indi ibete

Aspirja água pura sobre a bebida (e/ou janta); põe-se a bebida num copo (e a pouco de comida num prato, se for o caso – não precisa ser uma refeição completa – isto não é o Samonios, é algo mais simbólico). Após a refeição pode-se queimar a comida (caso o tamanho do fogo assim permita, caso não se permita – seja uma vela por exemplo, o pedaço pode ser guardado até ser queimado em um fogo maior) ou se depositar no dia seguinte num local natural (enterrar, por no topo de uma colina ou nas margens de um rio, lagoa) e se libar no chão a bebida.

Continuação.
Caso, haja algum outra oferenda, oração ou prática a ser feita (para desobstrução, limpeza, purgação, mudança indiretamente benéfica), esta é realizada.

Finalização.
Segurando uma pátera com a bebida a ser libada (ou mesmo o restante da água pura separada para aspergir a oferenda), se diz: toutas trebias'kue teiuoi, amei ro·aneitete, aberta rodaz, sua dematim, uta nos t'anegounei, samaliz senatres mou didasonti uta trogoi mou dasionti / dÄ"voi toudās indi trebās, ammÄ" anectete, abbertā ro·das, sua dedmadem, do anectlō ansom, samalid mo senistres dedant indi mo genoi dasient "deuses da tribo e da casa, que tenhais nos protegido, a oferenda foi dada, como sustenta o costume, para que nos protegeis ainda, como meus ancestrais deram e como meus descendentes darão" e liba-se a bebida.


Inté!
:m:d:
:pb:


Última edição por Manuel Araújo em Ter Ago 23, 2011 9:36 am, editado 2 vez(es)
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Mensagem  Manuel Araújo Ter Ago 23, 2011 9:28 am

Nota pessoal: As traduções callaeco-lusitanas foram estragadas pelo Yahoo que não reconhece os símbolos de macron (os traços em cima das vogais) que indicam o prolongar do som da respectiva vogal em cima da qual se localiza; também parece ter substituido alguns caracteres por outros.
Tentei por as coisas em ordem, mas não consegui decifirar algumas palavras "estragadas" pois não tenho conhecimento sobre as línguas callaecas e lusitanas e eu próprio não sei colocar macrons (recorro a acentos tónicos para esse efeito).

Marcílio, quando tiveres tempo, poderias tentar corrigir os erros? Embarassed

P.S- Me deparei com o "problema" de que a finalização deste e de outros ritos domésticos partem do princípio de que o praticante terá descendência, o que não será o meu caso. Por isso, para uso próprio, tive de modificar a parte final. Razz
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Dom Jan 22, 2012 5:11 pm

Então, basicamente repetindo o que foi postado [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]:

Ablução (purificação pela água, das mãos e rosto/testa do oficiante e familiares).

  • Português: "água santa, água luzente | purifica e deixa nos com boa mente"
  • Proto-Céltico:
    *noybā akwā/φenā/uden-sk-yos, lowkyā akwā/φenā/uden-sk-yos | kart-āie ekwe dā-ie me su-menman
  • Keltiberika:
    "noibā akuā, loukiā akuā, kartāe ekue sumonimām me gabie"
  • Galaico/Lusitânico:
    "nemidā aquā¹, louciā aquā, cartāe indi dae sumoumanem²"

---
¹Há atestado na região galaica para "água": anā, e não sabemos se o epíteto galaico AGUAECO se refere a "água" (neste caso, ao invés de "aquā" o termo serria - como em português moderno - "aguā"), a mesma raiz (*akwā) em lusitânico daria algo como **apā.
²Para "boa mente" (no sentido do latim libens), seria um composto de *su- + "mente", para mente não temos nenhum raiz atestada na área lusogalaica, com a possível exceção do teônimo MVNIS (que mais provavelmente vem de "monte, outeiro" *monit- < IE *mon-ti-) - daí que talvez um termo adequado seja *su-kwēslā ("boa mente/espírito/razão"), que daria em galaico **suquēllā, e em lusitânico **supēllā/supillā. Fora *menman- (que daria algo como **mewman- > **mowman-, atestado no celtibérico como MONIMA) "mente, pensamento, memória", temos *mentyon- "ato de trazer a mente, menção, pensamento", além de *briti- "juízo, pensamento, intento"

Para o fogo doméstico.

  • Português: "ó elevada dos inícios, deusa do caminho nos ofícios, que o trilume aceso se veja, e que a inspiração conosco esteja"
  • Proto-Céltico:
    *Wāri-deiwa, lēstu trebā-aydows, kom-ansed ési
    Kom wesūd aydūd gwedyasom-mī ekwe
    Sām ad-bertām tu kom-berases

    ---
    Tradução: “Ó Deusa-da-Aurora, luz do fogo da casa, estás conosco | Que eu ore com fogo excelente | E que tu aceites essa oferta”
  • Celtibérico:
    Uāriteiua, leistu trebaidous, komansez esi,
    Uesūz kom aidūz guezasommī
    Uta sām abertām tu komberases
  • Galaico (e talvez Lusitânico):
    Vāridēva, lēstu trebaedōs, esi comanse,
    Guediasommī com vesū aedū
    Indi comberases tu sām abbertām


Invocações: Entidades Locais e Ancestrais.

Às Entidades Locais.
  • Português: "Espíritos e Entidades Locais, nesta noite aqui nos ouçais, pela aliança convosco assentada, recebei a oferenda ofertada"
  • Proto-Céltico:
    *Nityās anamōnes, trebās ānses | aneχtetes snos ekwe anegetes snos | ansterā gwortīkā su-nertīd deywōm | stām ad-bertām kom-ber-asetes
  • Keltiberika:
    "Nitiās anamones, trebiās ānsis | nos anekitete ekue nos anegete | gortigā ansonā sunartīz'kue teiuūm | stām abertām koberasete" ("almas locais, espíritos de casa | protegeste-nos e protegei-nos | pela nossa tessera (de hospitalidade) e pelo poder benfazejo dos deuses | aceitai esta oferenda")
  • Galaico/Lusitânico:
    "Nitiās anamones, trebās āsīs | anegitete nos indi anegete nos | tancō ansom indi sunartīd dēvōm | roberasete sām abbertām" ("almas locais, espíritos da casa | protegeste-nos e protegei-nos | pelo nosso armistício e pelo poder benfazejo dos deuses | aceitai nossa oferenda")


Aos Ancestrais.
  • Português: "Ó poderosos Ancestrais, antigos pais dos nossos pais, com boa mente nós vos recebemos, e em vossa honra juntos bebemos"
  • Proto-Céltico:
    *Senākūs, wenyās senoy | s-noχtey snos an-k-ete | aw dubūd kaχsmanōy Ēskyosyo | kom-ansed s-noχtey ib-ete.
  • Keltiberika:
    "Senākūs, ueniās senoi | nos sanotei akete | au dubuez kamanūz Eiskio | kom·ansez sanotei ibete" ("Ancestrais, antigos da família | a nós vinde esta noite | do caminho negro da Lua | conosco bebei esta noite")
  • Galaico/Lusitânico:
    "Senaecūs, seni veniās | ad nos ancete sanotē | au dubuē camanō Lugrās¹ | comanse ibete sanotē" ("Ancestrais, antigos da família | a nós vinde esta noite | do caminho negro da Lua | conosco esta noite bebei!")

---
¹Lua é um termo difícil. Há o Protocéltico *lugrā (supostamente atestado em sobrenome britânico LVGRACI... MARVELLIN... na antiga Luguualium) que daria origem ao galês médio lloer, *lowxsno-/*lowkno-, e *ēskyo- que se relacionariam mais a formas irlandesas antigas.

Finalização.
  • Português: "a oferenda foi dada, em conformidade com o costume sagrado, como nossos ancestrais deram e como nossos descendentes darão"
  • Proto-Céltico: *ad-bertām φro-dā(tor?), φeri dedmatem, samalid senoy de-da-ont(oro) ekwe genoy da-s-ontes
  • Keltiberika: "abertām ro·dās, eri dedimatem, samaliz senoi dedantoro ekue genoi dasontes"
  • Galaico/Lusitânico: "abbertām ro·dās¹, eri dedmadem, samalid seni² dedanti indi geni dasionti"

---
¹As formas verbais são difíceis e equipolentes em vista da falta de evidências, podem ser: 1) "foi dado" *phro-dās ou *de-dāto-, 2) "deram" *de-danti ou *danto(ro)so ou ainda *de-dantoro e 3) "darão" *dasienti, ou *desont(es) ou *dasont(es). Em celtibérico temos atestado a forma imperativa "dê" ou mais precisamente (numa espécie de imperativo futuro) "deve dar, tem de dar" com sujeito enclítico ("deve dá-lo") como 'datuz' (no Bronze de Botorrita III)... No caso do perfeito, o celtibérico (no mesmo bronze) registra uma forma "tenha/tiver colhido, foi colhido" como 'robiseti' (< *phro-bi(n)-s-eti), o lusitânico registra a forma da terceira pessoa do presente simples "dão" > 'DOENTI'.
²O nominativo plural dos temas em -o, era arcaicamente -oi (ou seja, "antigos" - senoi - e "filhos, descendentes" - genoi)

Sugestões? Por favor...


Última edição por M· Diniz Nemetios em Dom Out 14, 2012 12:55 pm, editado 3 vez(es) (Motivo da edição : Correção do céltico antigo)
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Mensagem  Manuel Araújo Qua Jan 25, 2012 11:10 am

Como este rito tem em vista os ancestrais que precederam a comunidade, não seria de considerar também uma menção ao Deus do Submundo, já que ele é tido como antepassado dos humanos?
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Sex Jan 27, 2012 10:38 am

Manuel Araújo escreveu:Como este rito tem em vista os ancestrais que precederam a comunidade, não seria de considerar também uma menção ao Deus do Submundo, já que ele é tido como antepassado dos humanos?

Sim, basta inserir uma referência explícita - há até o epíteto/teônimo galaico do sul SENAICO, ou seja Senaecos - "Ancestral". Wink Poderia ser feita uma referência mais geral (já que não temos certezas mitologicamente claras de quais deuses, especificamente, apesar da tendência aos deuses do tipo "Sucellos/*Dis Pater).

Abração!
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Dom Out 14, 2012 11:48 am

Mais coisas e atualizações.

Para a purificação:

>*katos mī noybōy buyū (Proto-céltico)
>katos mī noibūi buiū (keltiberika)
>cados mī buiū noebō (callaeco - lusitano?)
“esteja eu puro* para o sagrado”

*kato- “puro, limpo, purificado, sábio”

Para quando o fogo sagrado for aceso:

"As águas circundam-nos
A terra sob nós se estende
O céu por cima nos cobre
O fogo no meio se acende.
Que os Deuses abençoem-nos,
Que nosso louvor seja vero,
Que nossas ações sejam justas
E nosso valor sincero.
Força, honra e glória aos Deuses Imortais."

Para os Ancestrais:

Ancestrais, pais dos nossos pais
Mães das nossas mães,
Fonte vital dos mortais,
Da estirpe os guardiães:
Nossa casa a vós oferta
Em honra e gratidão,
Estejais com nossa família
No descanso e prontidão,
Nossa permanência assegurai,
Nosso sangue são ourai,
Nossa fortuna perdurai,
Nos confortos e alertas,
Para fazermos as coisas certas
Protegei-nos e augurai
Para que nossos dons sejam abençoados.
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Mensagem  M· Diniz Nemetios Sex Nov 16, 2012 8:24 pm

Considerando tudo o que foi postado acima, sugiro uma liturgia para compartilharmos e celebrarmos durante as noites de lua negra.

Rito doméstico para a lua negra (*lītus trebākos dubu-ēskyōi)

Materiais

  • Altar doméstico e o recipiente para o *trebā-aydu (com os devidos materiais inflamáveis, pode ser uma vela cortada em três pedaços iguais)
  • Recipiente para oferendas (*lestro-; para vasilhames de madeira o nome é *druχto-)
  • Pátera ou chifre-de-beber (*φatnā; um chifre-de-beber valioso e distinto para uso ritual – como insígnia – é chamado em IrA 'fethal' > *wet-alo- etimologicamente ligado ao verbo *wet-o- “estar familiarizado, conhecer, perceber” que sugere que o termo tenha um significado mais geral de “coisa distinta, facilmente percebida, insígnia”, na Irlanda, ao menos, era comum dar nome aos chifres-de-beber pessoais de sujeitos distintos)
  • Oferendas (*ad-bertās) para a ocasião (1. azeite/perfume, 2. farinha/tabaco/mel/objetos prateados/cerveja e 3. bolos/papas/o que será jantado e bebido)
  • Instrumento (*korno- corneta ou *klokko- sino)
  • Opcionais: manto (*bratto- ou *brattino-, ou ainda “capa” *tīg- ou *sago-; o oficiante pode por uma túnica *ruk- própria, caso deseje) para o oficiante (os demais adultos, caso desejem, podem cobrir a cabeça com toucas, véus ou xales *linnās), lira ou instrumento musical para acompanhamento, etc.


Pressupostos

  • Uma pessoa deve assumir a liderança do rito, tradicionalmente o “chefe” da casa – o pai de família (*φatīr wenyās → *wenyātīr ou *wiros tegesos, IrA: fir tige ou *trebā(ta)kos IrA: treb(th)ach), ou na ausência deste da mãe (*matīr wenyās → *wenyāmatīr), esta deve (considerando que seja quem cozinha e lida como fogo doméstico mais frequentemente) realizar as invocações, acender e ofertar no (re-)acendimento da chama sagrada.
  • É de se esperar que os filhos e demais moradores da casa participem do rito
  • O ideal é que toda as atividades das pessoas da casa (assistir TV, trabalhos, etc.) sejam paradas para o rito
  • As frases litúrgicas estão em Proto-Céltico, recomendo que se use as versões em celtibérico ou galaico (no final há as versões)
  • Ao final de cada oração pode-se dizer (eu e meu grupo mesmo sempre utilizamos) *sua biyetod


Preparações

  • Um dia de finalizações, faxinas e limpezas em geral
  • Uma noite propícia para finalizações, enfraquecimentos, destruição e términos em geral
  • Organizar o local do rito, chama e oferendas


1. Ablução

O oficiante canta sobre a água pura:
*katos ud-es-kyos ando-φenās φolya kartā-ye

Asperge água sobre si (pode ser em três pontos formando um trisquele: testa, mão direita e esquerda) enquanto diz:
*katos noybōi mī buyū

Asperge os demais participantes (em ordem de idade, do mais velho ao mais novo) dizendo:
*katos noybōi tū buesi

E sobre a área do altar doméstico
*noybos nemetos-kwe esti

2. Início: (re-)acendimento do *trebā-aydu

Toca-se o sinal do início (3x)

Em posição de oração, em direção ao nascente, o responsável pelo acendimento do *trebā-aydu diz:
*Wāri-deywa, φlenstus trebā-aydows, kom-ansed esi

Acende-se o fogo (caso este não permaneça constantemente aceso, se for o caso de permanecer não é necessário esta parte pois) e se continua

*gwed-y-a-s-om-mī kom wesūd aydūd
e-kwe kom-ber-a-s-esi tū sām ad-bertām


Oferta-se no *trebā-aydu

O oficiante diz (e pode, ao dizê-lo, fazer os gestos específicos ou mesmo segurar o fogo em mãos 1º erguendo-o, 2º abaixando-o, 3º girando levemente e 4º centrando-o diante do altar para depois colocá-lo sobre; isto durante os quatro primeiros versos, depois assume-se a posição de oração):

“O céu por cima nos cobre
A terra sob nós se estende
As águas circundam-nos
O fogo no meio se acende.
Que os Deuses abençoem-nos,
Que nosso louvor seja vero,
Que nossas ações sejam justas
E nosso valor sincero.
Força, honra e glória aos Deuses Imortais”

Depois, declara o propósito do rito e saúda os deuses e o *trebā-aydu

3. Oferendas

Aqui são realizados as invocações e oferendas aos Poderes da ocasião.

Às Entidades Locais

O oficiante recita:

"Espíritos e Entidades Locais
nesta noite aqui nos ouçais
pela aliança convosco assentada
recebei a oferenda ofertada"

Outra prece (improvisada/escrita) de agradecimento pode ser feita, pode-se também rogar pela boa manutenção da aliança e proteção doméstica e nos arredores (ou locais naturais frequentados constantemente), realizando a oferta em seguida (toca-se um sinal 1x), todos saúdam as entidades.

Aos Ancestrais

O oficiante recita:

*Senākūs, wenyās senoy
s-noχtey ad snos an-k-ete
aw dubūd kaχsmanōy ēskyoyo
kom-ansed s-noχtey ib-ete.


Ou se pode utilizar uma outra, como esta:

Ancestrais, pais dos nossos pais
Mães das nossas mães,
Fonte vital dos mortais,
Da estirpe os guardiães:
Nossa casa a vós oferta
Em honra e gratidão,
Estejais com nossa família
No descanso e prontidão,
Nossa permanência assegurai,
Nosso sangue são ourai,
Nossa fortuna perdurai,
Nos confortos e alertas,
Para fazermos as coisas certas
Protegei-nos e augurai
Para que nossos dons sejam abençoados.

Caso deseje, mais uma prece (improvisada/escrita – em português mesmo) de agradecimento e rogando por proteção familiar, paz e bem-aventurança, enobrecimento da estirpe e pela vitalidade das qualidades herdadas pelos familiares, realizando a oferta em seguida (toca-se um sinal 1x), todos saúdam as entidades.

4. Encerramento

O oficiante agradece aos Poderes presentes e declara o encerramento do rito doméstico, por fim agradece à Deusa que preside o *trebā-aydu e profere:
*ad-bertām φro-dā(-yta)s, φeri dedmatem, samalīd senoi de-dā-anti genoi-kwe dā-s-ionti

Toca-se o sinal de encerramento (3x)

Finalizações

  • As oferendas que ainda não foram depositadas são dispostas em seus lugares adequados
  • A água é libada no solo
  • As insígnias, vestimentas e materiais são realocados e os participantes dispersos.


Léxico do Proto-Céltico para o Celtibérico e o Galaico

*lītus trebākos dubu-ēskyōi
Galaico: lītus trebaecos dubuēsciō
Celtibérico: lītus trebākos dubueiskiūi

Termos gerais:

*ad-bertā (Galaico: abbertā; Celtibérico: abertā) “oferta, oferenda”
*bratto- ou *brattino- (Galaico: brattos, brattinos; Celtibérico: bratos, bratinos) “manto”
*dawnā (Galaico: daunā; Celtibérico: daunā) “poema de oferta, hino”
*deywā (Galaico: dēvā; Celtibérico: teiuā) “deusa”
*deywoi (Galaico: dēvi; Celtibérico: teiuoi) “deuses”
*deywos (Galaico: dēvos; Celtibérico: teiuos) “deus”
*druχto- (Galaico: durtos; Celtibérico: derutos) “recipiente de madeira (de carvalho)”
*klokko- (Galaico: cloccos; Celtibérico: klokos) “sino”
*korno- (Galaico: carnos; Celtibérico: kornos) “corno, chifre” no caso “corneta”
*lestro- (Galaico: lestrom; Celtibérico: lestrom) “vasilhame, vasilha”
*linnā (Galaico: linnā; Celtibérico: linnā) “véu, xale”
*matīr wenyās → *wenyāmatīr (Galaico: matīr veniās; Celtibérico: matīr ueniās) “mãe da família”
*ruk- (Galaico: rus; Celtibérico: ruz) “túnica”
*sago- (Galaico: sagom; Celtibérico: sagom) “capa, manto com capuz”
*sua biyetod (Galaico: sua biieto; Celtibérico: sua biietuz) “assim seja”
*tīg- (Galaico: tīs; Celtibérico: tīz) “capuz, capa”
*trebā-aydu (Galaico: trebāedu; Celtibérico: trebāidu) “fogo sagrado da casa”
*trebā(ta)kos (Galaico: trebaecos; Celtibérico: trebātakos) “caseiro, pai de família”
*wet-alo- (Galaico: vetalos; Celtibérico: uetalos) “insígnia, chifre-de-beber valioso ou para uso ritual”
*wiros tegesos (Galaico: vírus tegesos; Celtibérico: uiros tegesos) “homem da casa, pai de família”
*φatīr wenyās → *wenyātīr (Galaico: atīr veniās; Celtibérico: atīr ueniās) “pai de família”
*φatnā (Galaico: ānā; Celtibérico: ānā) “copo, chifre-de-beber, pátera”

Frases litúrgicas:

*katos ud-es-kyos ando-φenās φolya kartā-ye
“pura água da fonte tudo purifica”
Galaico: cados udescios/catā aguā andonās olla cartāie
Celtibérico: katā akuā andonās olia kartāie

*katos noybōi mī buyū
“puro para o sagrado eu esteja”
Galaico: cados noebō mī buiū
Celtibérico: katos noibūi mī buiū

*katos noybōi tū buesi
“puro para o sagrado tu estejas”
Galaico: cados noebō tū buesi
Celtibérico: katos noibūi tū buesi

*noybos nemetos-kwe esti
“santo e sagrado está”
Galaico: noebos nemidosque esti
Celtibérico: noibos nemetoskue esti

*Wāri-deiwa, φlenstus trebā-aydows, kom-ansed esi
“Ó Deusa-da-Aurora, luz do fogo sagrado da casa, conosco estás”
Galaico: Vāridēva, lestus trebāedōs, comanse esi
Celtibérico: Uāriteiua, lestus trebāidōs, komansez esi

*gwed-y-a-s-om-mī kom wesūd aydūd
e-kwe kom-ber-a-s-esi tū sām ad-bertām

“que eu ore com um excelente fogo sagrado
e que tu recebas essa oferenda”
Galaico: guediasommī com vesū aedū
igo* comberases tū sām abbertām
Celtibérico: guediasommī kom uesuez aiduez
ekue komberases tū sām abertām

*Senākūs, wenyās senoy
s-noχtey ad snos an-k-ete
aw dubūd kaχsmanōy ēskyoyo
kom-ansed s-noχtey ib-ete.

“Ancestrais, antigos da família
esta noite a nós vinde
do negro caminho da lua
conosco esta noite bebei”
Galaico:
Senaecūs, seni veniās
ad nos ancete sanotē
au dubuē camanō ēscii
comanse ibete sanotē
Celtibérico:
Senākūs, ueniās senoi
nos sanotei akete
au dubuez kamanūz Eiskio
kom·ansez sanotei ibete

*ad-bertām φro-dā(-yta)s, φeri dedmatem, samalīd senoi de-dā-anti genoi-kwe dā-s-ionti
“a oferta foi dada, conforme o costume sagrado, como os antigos deram e como os filhos darão”
Galaico: abbertām ro·dās, eri dedmadem, samalīd seni dedānti igo* geni dāsionti
Celtibérico: abertām ro·dās, eri dedimatem, samalīz senoi dedānti genoikue dāsionti

---
*'igo' (atestado na inscrição de Viseu “Deibobor IGO Deibābor...”, provavelmente para uma conjunção baseada em *e-kwe > 'eque' > 'ique' > 'iquo' > 'iguo' > 'igo') ou pode-se utilizar a conjunção lusitana 'indi'
M· Diniz Nemetios
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