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Gêmeos Dvinos na Ibéria (originário da lista Recons IberoCeltica)

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Mensagem  Manuel Araújo Qua Ago 17, 2011 9:50 am

Da autoria de M· Diniz Nemetios
(Terça-Feira, 11 de Janeiro de 2011)

Saudações!

Entre os povos Indo-Europeus há a concepção de Gêmeos Divinos, que ora cumprem papeis enquanto deuses de fato, ora são relegados ao campo mais "semi-divino" e enquadrados no campo heroico. O que apresentarei abaixo, é que na Ibéria, em especial entre os Calaicos, Astures e Lusitanos (e é de pensar entre os Vetões e demais povos do ocidente peninsular) temos evidência destes Gêmeos Divinos, como deuses, venerados como tais, de fato.

Em uma inscrição de La Vid em León, se lê:
DEIS E
QVEVNVBO(S?)
IVLIVS
REBVRRVS
V.S.L.M.
Num artigo recente, Ignacy R. Danka e Krzysztof T. Witczak (Studia Celto-Slavica, 2009. Vol. 4. p. 17-26), propõe que interpretemos como Deis Equeunubos, Iulius Reburrus uotum soluit libens merito. Teríamos, pois, um dativo plural latino (DEIS) seguido de um dativo plural céltico (-VBOS), o dedicante, portando, como costume, um praenomen romano e um nome céltico. Os deuses da dedicação seriam pois Equêunoi (no nominativo plural) que os autores derivam do Proto-Céltico *ekwei-sûnoi- "filhos que (cavalgam) cavalos" (eu leria simplesmente "filhos-eqüinos").

Explicam *ekwei-sûnoi > *ekwei-hûnoi > *ekwê-únoi, tal evolução com a queda infalível de um *s- (inicial), não é tão clara, apesar de ser um desenvolvimento natural das línguas célticas britônicas (o *-s-, pode até cair, como no irlandês antigo eog do Proto-Céltico *esok-). Além de que, os exemplos utilizados pelos autores para "atestar" a queda do *-s- não me parecem adequados: o primeiro é o do genitivo singular em celtibérico (que é atestadamente diferente do genitivo singular do lusitânico-calaico) e o segundo é a interpretação do teônimo LAEBO:
i. genitivo singular dos temas em -o no Proto-Céltico: *-osyo > *segos, genitivo singular *segosyo
celtibérico: segos, genitivo singular sego
lusitânico-calaico: segos, genitivo singular segi (como no latim e no gaulês)
ii. LAEBO (Witczak, 2005. interpreta como) > *Lâsebo(s) > *Lâsis = latim *Lâres, daí com a quesa do *-s-, teríamos "para os Lâsis (espíritos domésticos)" > *Lâsebos > *Lâhebos > *Lâebo.
O problema disto, é que não me parece levar em consideração, nem explicar os casos onde o *-s- foi preservado...

O termo *sûno- "filho", não foi atestado nas línguas célticas insulares (gaélicas, nem britônicas), além de que os únicos casos atestados - e mesmo assim questionáveis - são o celtibérico EBVRSVNOS (de um provável *eburo-sûno-, "filho do teixo") e o lusitânico SVNVA (*sûnuâ - que EU derivaria de *su-nowyâ - "a boa-nova, aquela que é a mais nova e boa", e não de *sûno-yâ, ou *sûnâ "filha", mas não sei).

Ok, isto são questões linguísticas que nem sempre são interessantes para os não acostumados, em termos práticos, tem como entender *Equeunoi de outra foma? Eu veria como uma variante de *Equounoi (<*Ekwo-onoi - "os grandes cavalos, senhores dos cavalos") ou ainda de *Equaeonoi (<*Ekwo-awnoi - "os que estão com/sendo os cavalos"), afinal a variação do encontro vocálico -ou- para -eu- ocorria mesmo no gaulês (touto- > teuto-).

Mas que garanhões são estes?

No modelo Indo-Europeu (doravante IE), os Gêmeos Divinos (MATASOVIC, 2009, p. 11; WEST, 2006, p. 186-191) são deuses salvadores, sempre associados a cavalos (descritos como brancos e rápidos), que ajudam os seres humanos em diversas situações críticas e que parecem "inescapáveis", são filhos do *Deus-Céu IE, jovens e auxiliadores.

Epítetos:
*salvadores
*équos, eqüinos, hípicos
*de/possuindo bons cavalos
*filhos do *Deus-Céu (para os IE, *Dyeus)
Características:
*aparecem aos mortais como jovens
*possuem cavalos brancos e muito rápidos
*os cavalos de passo leve
*possuem um carro dourado
**para alguns povos (bálticos e hindus), estão associados à aurora

-Para os hindus são os AÅ›vinâ (ou AÅ›vinau - aÅ›vin - quer dizer "équo, que tem com cavalos") ou Násatyâ (ou Násatyau - o termo significa "salvadores").
-Para os gregos são os Dioskouroi (Dios kóroi = "filhos/jovens do *Dyeus", sendo pois, de Zeus).
-Para os romanos são Castor e Pollux.
-Para os bálticos são Diêvo sunêliai (para os lituanos) e Dieva dêli (para os letões).
-Para os nórdicos que os cultuavam (segundo Tácito, Germania. 43; iii), as tribos de Silesia os chamavam de Alcis (que obviamente foram identificados pelos romanos como Castor e Pollux - o termo "Alcis", me parece ter relação com o céltico *alki- "alce"...), os saxões provavelmente se referiam a ecos seus em Hengist e Horsa (cujos nomes significam "Garanhão" e "Cavalo"), líderes quase-míticos da invasão saxã das ilhas britânicas.

E na Ibéria?
-Para os astures e calaicos (é uma abrangência dizer isto, se encontrou apenas uma ara votiva na região destes), são os Equeunoi (ou *Equounoi).
-Para os lusitanos, talvez (leiam bem TALVEZ) seja os deuses Arentios e Arentia - também associados a cavalos, prosperidade e proteção doméstica, familiar.
-Para os demais povos (Celtibéricos, Tartéssicos, etc.) não sei de nada relacionado.

São deuses de culto majoritariamente pessoal - cuja dedicação de um altar ou santuário (doméstico, mas também quiça comunitário) para oferendas, preces (em situações que envolvam ação - conflitos, viagens, problemas envolvendo movimentação, entrada-saída, desordem, etc. - de dificuldades iminentes, em que um socorro rápido seja a salvação) e culto em geral nos dias de hoje, é adequada com toda a tradição IE. Penso que a oferta de bebida, incenso (louro me soa bem) e ex-votos (relacionados às situações de ajuda ou a iconografia dos deuses: gêmeos-par divino, cavalos, etc.) gerais também seja adequado.

Dúvidas, sugestões ou críticas? Por favor, fiquem a vontade.
Inté!

:m:d:
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Manuel Araújo
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